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MEDICINA
"Prima" da droga pode levar a novo tratamento para crises de epilepsia
"Maconha" do corpo evita ataques
MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Muito se fala sobre usos terapêuticos da maconha, mas seus
efeitos colaterais sempre representaram uma barreira para essa
aplicação. Cientistas europeus, no
entanto, acharam um jeito de usar
suas propriedades no combate a
ataques epiléticos, mas sem o lado
ruim: incentivaram a produção
interna do corpo de um "primo"
do princípio ativo da droga.
A anandamida, essa parente de
substâncias presentes na maconha, é produzida por diversos
animais, incluindo o homem. Estudando camundongos, pesquisadores na Alemanha, na Espanha e na Itália conseguiram aumentar e direcionar a produção
de anandamida no cérebro dos
animais, o que reduziu sensivelmente a incidência de ataques similares à epilepsia nos bichos.
"Não se trata de incentivar o uso
da maconha. Pelo contrário, estudamos o efeito do THC [tetraidrocanabinol, princípio ativo da
maconha] e vimos que ele não
funciona sempre e pode tornar alguns tipos de ataque ainda piores", disse o neuropsicólogo suíço
Beat Lutz, 42, do Instituto Max
Planck, na Alemanha.
"Quando você fuma [maconha], o cérebro se inunda de THC
e ele não vai necessariamente para
as áreas de interesse, além de agir
além do tempo." diz Lutz. "Em
nosso método, nós prolongamos
a ação dos canabinóides endógenos, mas na hora e nas áreas do
cérebro em que queríamos."
Segundo o pesquisador, a injeção ou a ingestão de anandamida
sintética tampouco funciona, pois
a substância se degrada rapidamente. "A anandamida existe
também no chocolate, mas, para
que houvesse efeito, a pessoa teria
de comer uma quantidade absurda", diz Lutz. "Embora eu, sendo
suíço, goste bastante da idéia."
O segredo do método dos europeus está no controle do CB1, um
receptor de canabinóides no cérebro ligado à proteção aos ataques.
Para estimular o funcionamento
do receptor, Lutz e seus colegas
aumentaram a quantidade de
anandamida, que já era naturalmente produzida no cérebro do
camundongo, bloqueando um de
seus inibidores. Com isso, conseguiram reduzir em cerca de 70%
os ataques nos animais.
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