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Amazônia quente traz cheia ao Sul
Aquecimento global deve mudar ventos e aumentar tempestades na bacia do Prata, diz novo estudo
Calor elevará em até 50% o fluxo de umidade vindo da floresta; fortes chuvas poderão afetar ainda mais as cidades e a agricultura
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
A elevação da temperatura
média na Amazônia nos próximos anos deverá implicar uma
maior ocorrência de chuvas
fortes e intensas na região da
bacia do rio da Prata, que inclui
os Estados do Sudeste e do Sul
do país, além de parte da Argentina e do Paraguai.
Isso significa que, no futuro,
a região poderá registrar com
maior freqüência problemas
como enchentes e perdas na
agricultura em razão do aquecimento global.
As conseqüências desse cenário são algo que qualquer cidadão paulistano já sente na
pele todo verão: tempestades
que alagam a cidade em questão de horas, matam gente -sobretudo nas regiões mais pobres- e causam prejuízos.
É o que conclui o pesquisador do Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) Wagner Rodrigues Soares, em tese de doutorado que
será defendida no começo do
ano que vem no Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais). O trabalho teve duração
de quatro anos.
Soares analisou os ventos
responsáveis por transportar
umidade da Amazônia até a bacia do Prata, os chamados jatos
de baixos níveis da América do
Sul. A umidade transportada
por esses ventos tem influência
no clima no sul do continente.
Com ajuda de um programa
de computador, o pesquisador
calculou quantos desses jatos
de baixos níveis ocorreram durante a década de 1980 e quantos devem ocorrer na década de
2080, em um cenário de aquecimento global previsto pelo
IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), no qual a Amazônia terá
temperaturas médias de 2C a
7C superiores às atuais.
O resultado da comparação
entre os dois períodos aponta
um aumento de até 86% na
ocorrência dos jatos durante a
década de 2080.
A quantidade maior de jatos,
segundo o estudo, deve elevar
em cerca de 50% o fluxo de
umidade da Amazônia para a
bacia do Prata.
Convergência
"Com o aumento da quantidade de umidade, vai haver
uma maior convergência, ou
seja, a umidade que chega da
Amazônia e aquela que já está
na bacia do Prata se juntam e
sobem para a atmosfera. Esse
fenômeno é responsável pela
formação das nuvens e das chuvas", diz Soares.
Segundo ele, o aumento da
umidade está ligado a uma
maior quantidade de eventos
extremos de chuva na bacia do
Prata. "Isso significa que as regiões Sul e Sudeste do país podem enfrentar mais enchentes
e problemas na agricultura em
um futuro com aquecimento
global extremo", afirma.
De acordo com o estudo, o
aumento da ocorrência dos jatos poderá resultar também em
maiores eventos de seca na
Amazônia, porque uma maior
quantidade de umidade deve
ser transportada da floresta para o sul.
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