São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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GLACIOLOGIA

Estudo afirma que recuo do gelo é constante desde 10 mil anos atrás

Derretimento antártico é natural

DA ASSOCIATED PRESS

Uma grande capa de gelo antártica está derretendo e pode desaparecer em 7.000 anos, possivelmente elevando os níveis do mar em 4,8 metros, segundo um novo estudo feito por pesquisadores norte-americanos.
Baseados em medições geológicas que datam de quando as pedras do local primeiro estiveram livres do gelo, os pesquisadores descobriram que o Manto de Gelo do Oeste Antártico começou a se retrair cerca de 10 mil anos atrás -e ainda está derretendo, segundo John Stone, primeiro autor de um estudo publicado na última edição da revista "Science" (www.sciencemag.org).
"Houve um derretimento contínuo e gradual", diz Stone, um professor de geologia da Universidade de Washington, em Seattle (EUA). Por milhares de anos, o gelo tem se reduzido a um ritmo de cinco centímetros por ano, uma taxa constante que não mostra sinais de arrefecimento.
Se o Manto de Gelo do Oeste Antártico derreter inteiramente, o nível global do mar subirá até 4,8 metros, o suficiente para submergir algumas ilhas e áreas costeiras.
"Se essa taxa de derretimento persistir por 7.000 anos, o ritmo de mudança é tal que os humanos podem se acostumar com ele", diz Stone. "O problema real é que há lugares no mundo em que um aumento significativo em umas poucas décadas poderia ser uma preocupação bem séria, por conta de tempestades e marés."
"Nossas medidas sugerem um ritmo constante de derretimento, mas não poderíamos descartar eventos rápidos e curtos", afirma.

Influência humana
Stone também diz que o estudo não pode demonstrar se o derretimento atualmente está sendo influenciado pelo aquecimento global, aumento gradual nas temperaturas mundiais que está sendo acelerado pela queima de combustíveis fósseis. Em vez disso, ele diz, os pesquisadores mediram o que aparentemente é um ciclo natural de concentração e derretimento de gelo que pode estar acontecendo periodicamente há milhões de anos.
Robert Ackert Jr, do Instituto Oceanográfico Woods Hole, disse que o estudo de Stone e seus colegas é importante porque estabelece a tendência natural do derretimento, que pode ser comparada com o ritmo atual, permitindo a observação de potenciais influências humanas sobre o clima.
"Qualquer mudança antropogênica poderá ser superposta a essa tendência", diz Ackert. "Embora a humanidade seja incapaz de interromper essa tendência, o aquecimento antropogênico poderia acelerá-la. Eu não interpretaria esses dados como um sinal de que não precisamos mais estar preocupados com essa questão", afirma o cientista.
No estudo, Stone e Gregory Balco, da Universidade de Washington, com cientistas de três outras instituições, mediram tipos diferentes de um conjunto de elementos nas rochas coletadas na encosta das montanhas da Terra de Marie Byrd, na área do manto.
Na altura correspondente à última era glacial (encerrada há 10 mil anos), essas montanhas estavam cobertas de gelo. Conforme o gelo derretia e as rochas ficavam expostas, eram atingidas por raios cósmicos, que alteravam a química das pedras. Medindo essa alteração, os pesquisadores puderam determinar quando a rocha ficou livre do gelo. "O relógio começa a bater quando o gelo derrete e vai embora", explica Stone.



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