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Clínica tem embrião congelado há 18 anos
Dono do maior estoque de embriões disponíveis para pesquisa do país, no interior de SP, diz que banco é "bomba atômica"
Centro de reprodução faz campanha para casais doarem sobras para estudo,
mas pais abandonaram 233 embriões congelados
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Abandonado pelos pais, o
embrião congelado mais antigo
do Brasil chega no próximo ano
à maioridade. Ele é o único que
restou de um total de 48 embriões congelados em 1991,
quando o centro de reprodução
humana Franco Júnior, de Ribeirão Preto (SP), iniciou o seu
programa de criopreservação.
A clínica perdeu o contato
com o casal que deixou o embrião congelado há 17 anos. Depois do tratamento de fertilização in vitro, eles mudaram de
endereço e não informaram o
novo destino. Isso acontece
com outros 233 embriões que
estão congelados na clínica, segundo o diretor José Gonçalves
Franco Júnior. "A gente manda
carta, telefona, mas não acha."
O banco de embriões congelados do centro é o maior do
país e reúne mais de 90% dos
embriões disponíveis para pesquisa com célula-tronco, segundo censo feito pela SBRA
(Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) em 2005.
A Lei de Biossegurança exige
que eles estejam congelados há
pelo menos três anos.
De 1991 até agora, a clínica
Franco Júnior congelou 13.925
mil embriões e hoje tem um
saldo de 4.657. Desses, 3.534
estão congelados há mais de
três anos. Em 17 anos, 402
crianças nasceram a partir de
embriões criopreservados.
Franco diz que está torcendo
para que o Supremo Tribunal
Federal libere no julgamento
desta semana as pesquisas com
células-tronco embrionárias,
embora o seu grupo não tenha
projetos de pesquisa nessa
área. "Chegamos a apresentar
um projeto ao CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), mas
não foi aprovado."
A clínica de Franco tem 55
autorizações de casais, registradas em cartório, liberando
os embriões para pesquisa.
"Isso aqui [banco de embriões congelados] é uma bomba atômica. Como a maioria
dos casais não formalizou a
doação para pesquisa e nem se
decide o que fazer com eles, [os
embriões] vão ficando aí. A
qualquer momento pode aparecer um casal querendo seu
embrião de volta."
O CFM (Conselho Federal de
Medicina) proíbe o descarte de
embriões e determina que eles
só podem sair do laboratório
onde foram produzidos com
autorização assinada pelo casal
e registrada em cartório.
Segundo Franco, a clínica
tem feito campanhas pedindo
para que os casais decidam o
que fazer com os embriões congelados. "Muitos até se dispõem a doar para pesquisa, mas
acham trabalhoso ir ao cartório
e registrar a autorização."
Levantamento
Há três anos, a SBRA fez um
levantamento nas maiores clínicas de reprodução e concluiu
que havia 9.914 embriões congelados, dos quais 3.210 em
condições de serem usados em
pesquisas com célula-tronco.
Na época, o número representava um décimo do estimado pelos cientistas durante a
tramitação da Lei de Biossegurança no Senado, em 2004.
Para o urologista Edson Borges, da clínica Fertility, nos últimos anos, é possível que o número de embriões criopreservados esteja diminuindo porque muitas clínicas estão congelando menos, em razão das
repercussões da Lei de Biossegurança. "Daqui a pouco vamos
ter que fazer campanha para
termos mais embriões."
A clínica tem 200 embriões
congelados disponíveis para
pesquisa e, segundo seu diretor, há uma rotatividade de embriões congelados e descongelados que mantém esse número
constante, por enquanto.
Para Franco Júnior, uma das
razões que está levando algumas clínicas a congelar menos
-ou nem congelar- embriões
é puramente comercial. "Elas
preferem que as pacientes voltem mais vezes para repetir o
procedimento. Isso é vantajoso
para a clínica, mas muito oneroso para a paciente."
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