São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

Próximo Texto | Índice

Clínica tem embrião congelado há 18 anos

Dono do maior estoque de embriões disponíveis para pesquisa do país, no interior de SP, diz que banco é "bomba atômica"

Centro de reprodução faz campanha para casais doarem sobras para estudo, mas pais abandonaram 233 embriões congelados

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Abandonado pelos pais, o embrião congelado mais antigo do Brasil chega no próximo ano à maioridade. Ele é o único que restou de um total de 48 embriões congelados em 1991, quando o centro de reprodução humana Franco Júnior, de Ribeirão Preto (SP), iniciou o seu programa de criopreservação.
A clínica perdeu o contato com o casal que deixou o embrião congelado há 17 anos. Depois do tratamento de fertilização in vitro, eles mudaram de endereço e não informaram o novo destino. Isso acontece com outros 233 embriões que estão congelados na clínica, segundo o diretor José Gonçalves Franco Júnior. "A gente manda carta, telefona, mas não acha."
O banco de embriões congelados do centro é o maior do país e reúne mais de 90% dos embriões disponíveis para pesquisa com célula-tronco, segundo censo feito pela SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) em 2005.
A Lei de Biossegurança exige que eles estejam congelados há pelo menos três anos.
De 1991 até agora, a clínica Franco Júnior congelou 13.925 mil embriões e hoje tem um saldo de 4.657. Desses, 3.534 estão congelados há mais de três anos. Em 17 anos, 402 crianças nasceram a partir de embriões criopreservados.
Franco diz que está torcendo para que o Supremo Tribunal Federal libere no julgamento desta semana as pesquisas com células-tronco embrionárias, embora o seu grupo não tenha projetos de pesquisa nessa área. "Chegamos a apresentar um projeto ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas não foi aprovado."
A clínica de Franco tem 55 autorizações de casais, registradas em cartório, liberando os embriões para pesquisa.
"Isso aqui [banco de embriões congelados] é uma bomba atômica. Como a maioria dos casais não formalizou a doação para pesquisa e nem se decide o que fazer com eles, [os embriões] vão ficando aí. A qualquer momento pode aparecer um casal querendo seu embrião de volta."
O CFM (Conselho Federal de Medicina) proíbe o descarte de embriões e determina que eles só podem sair do laboratório onde foram produzidos com autorização assinada pelo casal e registrada em cartório.
Segundo Franco, a clínica tem feito campanhas pedindo para que os casais decidam o que fazer com os embriões congelados. "Muitos até se dispõem a doar para pesquisa, mas acham trabalhoso ir ao cartório e registrar a autorização."

Levantamento
Há três anos, a SBRA fez um levantamento nas maiores clínicas de reprodução e concluiu que havia 9.914 embriões congelados, dos quais 3.210 em condições de serem usados em pesquisas com célula-tronco.
Na época, o número representava um décimo do estimado pelos cientistas durante a tramitação da Lei de Biossegurança no Senado, em 2004.
Para o urologista Edson Borges, da clínica Fertility, nos últimos anos, é possível que o número de embriões criopreservados esteja diminuindo porque muitas clínicas estão congelando menos, em razão das repercussões da Lei de Biossegurança. "Daqui a pouco vamos ter que fazer campanha para termos mais embriões."
A clínica tem 200 embriões congelados disponíveis para pesquisa e, segundo seu diretor, há uma rotatividade de embriões congelados e descongelados que mantém esse número constante, por enquanto.
Para Franco Júnior, uma das razões que está levando algumas clínicas a congelar menos -ou nem congelar- embriões é puramente comercial. "Elas preferem que as pacientes voltem mais vezes para repetir o procedimento. Isso é vantajoso para a clínica, mas muito oneroso para a paciente."


Próximo Texto: Célula embrionária ainda é necessária, diz cientista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.