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Célula embrionária ainda é necessária, diz cientista
Grupo que pesquisa tecido adulto questiona ação
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas brasileiros que
têm obtido bons resultados em
testes clínicos com células-tronco adultas afirmam que estão sendo citados indevidamente por opositores do uso de
embriões em pesquisa. O argumento de que células adultas
têm mais potencial terapêutico
do que embrionárias é "falso",
dizem Júlio César Voltarelli, da
USP de Ribeirão Preto, e Rosalia Mendez-Otero, da UFRJ, líderes de projetos na área.
Ambos questionam o ex-procurador-geral da República
Cláudio Fonteles, autor da ação
que visa proibir a destruição de
embriões para a extração de células. Em artigo na Folha, Fonteles afirmara que isso equivale
a "matar a vida" "a pretexto de
cura", já que ainda não há comprovação clínica do uso de células embrionárias em terapia.
Mesmo com a proibição, diz,
"fica amplíssimo horizonte de
pesquisas científicas com as
chamadas células-tronco adultas, que já apresentam resultados terapêuticos favoráveis".
"Esse é um argumento completamente falso", diz Mendez-Otero. "Os estudos clínicos feitos até o momento usaram células adultas porque nós ainda
não conhecemos as embrionárias tão bem e porque não tínhamos permissão para usá-las [no Brasil] até poucos anos
atrás. Não houve tempo de pesquisa suficiente para que elas
pudessem chegar a um modelo
de estudo clínico."
Mendez-Otero, que conduz
testes preliminares do uso de
células adultas para tratar pacientes de AVC (acidente vascular cerebral), diz que seu potencial é "limitado". Segundo a
cientista, a técnica ajuda a reduzir a mortalidade de neurônios que conseguem sobreviver
aos primeiros instantes do
AVC, mas nunca poderão regenerar neurônios já mortos.
"Não temos dúvida nenhuma
de que as células adultas não
vão servir para tratar tudo o
que tem de ser tratado", diz.
"Elas não se diferenciam, por
exemplo, em tipos celulares como neurônios ou cardiomiócitos [células de músculo cardíaco], mas as embrionárias sim."
Entusiastas
Voltarelli, que já conseguiu
bons resultados com células
adultas tratando diabetes e esclerose múltipla, concorda.
"Nós que trabalhamos com célula adulta somos os maiores
entusiastas da embrionária",
diz. "Pacientes [de diabetes]
que têm lesão de sistema nervoso, de vasos ou de retina precisam de terapia regenerativa, e
a grande esperança para eles é
com célula embrionária."
Um outro argumento contra
o uso de células embrionárias
diz respeito à técnica criada pelo cientista japonês Shinya Yamanaka, que "reprogramou"
células adultas para "imitar"
embrionárias. Cientistas da
área, porém, dizem que é cedo
para saber se elas são tão versáteis quanto as originais.
"Essas células reprogramadas são bem úteis para estudar
doenças genéticas e têm potencial importante, mas não substituem pesquisas com células-tronco embrionárias", diz Mayana Zatz, geneticista da USP.
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