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Eixo do contrabando sofre expansão
DA REDAÇÃO
A apreensão, no Piauí, dos fósseis que seriam exportados por
Michael Schwickert confirma um
temor dos pesquisadores e das
autoridades: o tráfico de fósseis
está se expandindo da bacia do
Araripe para a bacia do Parnaíba,
outra jazida importante.
Segundo José Artur de Andrade, do DNPM do Crato, Michael
Schwickert teria adquirido uma
fazenda no município piauiense
de Floriano, em associação com
um geólogo brasileiro também
suspeito de contrabando.
"A região é muito interessante
[do ponto de vista paleontológico", porque há vários peixes com
impressões tridimensionais preservadas", disse Andrade.
A "fuga" para o Piauí, segundo
alguns paleontólogos, tem o duplo objetivo de fugir da fiscalização no Araripe, onde o problema
é antigo, e explorar terrenos novos e promissores ao tráfico.
Quem perde com isso, para variar, são os cientistas brasileiros.
As instituições nacionais de pesquisa muitas vezes ficam com
"lascas" de espécimes que são enviados ao exterior, enquanto o filé
mignon literalmente voa -ou
nada- para museus de fora.
Um exemplo é o pterossauro
Anhanguera piscator, cujo holótipo (a parte do fóssil que contém
as impressões dos ossos) está no
Museu Nacional de Ciências do
Japão. O Ministério Público do
Ceará pediu, no ano passado, o
repatriamento do espécime.
Uma estimativa dos paleontólogos é que haja mais de 70 mil
exemplares de insetos fósseis brasileiros em museus como o de
Berlim e o Museu Nacional de
História Natural dos EUA. Dentro
do país, há cerca de 3.000.
"Fico feliz com a notícia [da prisão de Schwickert"", disse à Folha
Renata Guimarães Neto, presidente da Sociedade Brasileira de
Paleontologia. "É a primeira vez
que a PF toma uma atitude tão
forte para coibir o tráfico."
Legislação getulista
O Brasil não tem hoje nenhuma
lei específica contra o comércio de
fósseis. O patrimônio fossilífero é
protegido por uma portaria de
1942, assinada por Getúlio Vargas, segundo a qual toda a autorização para lavra de fósseis deve
passar pelo DNPM. Até hoje o órgão não concedeu legalmente nenhuma licença do tipo.
Um projeto de 1996, de autoria
do senador Lúcio Alcântara
(PSDB-CE), está em tramitação
na Câmara dos Deputados. Os
cientistas pedem urgência.
(CA)
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