São Paulo, domingo, 4 de outubro de 1998

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PERISCÓPIO

Hormônios, estresse e obesidade

JOSÉ REIS
especial para a Folha

Enquanto muitos especialistas debatem a natureza, as causas e os efeitos da obesidade em geral, alguns outros estudam as consequências de formas localizadas de excesso de gordura em diferentes partes do corpo. Esses distinguem dois tipos principais de obesidade local: a alta, representada por excesso de gordura na parte superior do corpo, em particular no peito e no abdômen, que se enche de matéria gordurosa, e a baixa, na qual a gordura se acumula nos membros inferiores. Os norte-americanos costumam chamar de "maçãs" o tipo alto e de "peras" o tipo baixo.
A explicação dada para essa diferença é que as células adiposas do abdômen rapidamente desdobram os lipídios nelas acumulados e logo despejam no sangue os ácidos graxos resultantes, o que vai aumentar uma carga já em si capaz de provocar aumento de glicose e lipídios triglicérides, provocando diabetes e problemas cardiovasculares. Outros, porém, mostram-se adeptos de explicação diferente: o estresse produz excesso de hormônios que aparecem no sangue e provocam os males.
Verificou-se experimentalmente que mulheres com obesidade abdominal são menos eficientes na tarefa de desdobrar a glicose, o que pode gerar diabetes tipo 2. Os pesquisadores observaram que as células gordurosas abdominais são muito maiores e mais capazes de desdobrar os lipídios em ácidos graxos do que as células das nádegas e das pernas. Os autores dessas experiências entenderam que o fluxo de ácidos graxos poderia intervir no metabolismo da glicose. Essas observações foram confirmadas e ampliadas, com testes que revelam o risco de elevar o teor de glicose e conduzir ao diabetes 2. Disso poderia resultar aumento do teor de glicose no sangue. A sobrecarga de ácidos graxos, por outro lado, faria o fígado produzir mais triglicérides que, no sangue, iriam elevar a promoção de aterosclerose e ataque cardíaco.
Outra hipótese apresentada para explicar os males decorrentes da gordura abdominal admite que o verdadeiro culpado por todos os transtornos são hormônios do tipo da cortisona. De fato, verificou-se em milhares de indivíduos que as pessoas em que o teor de cortisona sobe durante o dia, por causa de estresse crônico, têm mais gordura abdominal do que os que mantêm aqueles níveis no ritmo normal. Um dos cientistas que defendem essas idéias afirma que o hormônio poderia ser causa de todos os males atribuídos à gordura abdominal. Esta seria no máximo mero índice de perturbação hormonal. E a gordura poderia ser ou não fator gerador de doença.



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