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PALEOANTROPOLOGIA
Dentes descobertos na Etiópia lembram os de chimpanzés e elevam hominídeo ao status de espécie
Caninos revelam novo ancestral humano
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Alguns poucos dentes reveladores bastaram para que paleoantropólogos nos EUA criassem
uma nova espécie de ancestral humano, bastante próximo do nebuloso momento em que hominídeos (a família dos seres humanos) e macacos se separaram.
Antes que alguém chame os
pesquisadores de apressados, é
bom dizer que o Ardipithecus kadabba, como foi apelidado o novo homem-macaco, não é exatamente um desconhecido. Restos
descobertos em 2001 haviam levado o mesmo time de cientistas
a classificar a criatura de 5,8 milhões de anos como mera subespécie do Ardipithecus ramidus.
Agora, no entanto, a coisa mudou de figura: "Com esses dentes,
nós conseguimos um bocado de
informações que não tínhamos
antes. Eles são mais primitivos em
forma do que os do A. ramidus,
mais parecidos com os dos grandes macacos, o que justifica classificar o A. kadabba como espécie
separada", disse à Folha o paleoantropólogo etíope Yohannes
Haile-Selassie, do Museu de História Natural de Cleveland, no Estado norte-americano de Ohio.
Haile-Selassie voltou à Etiópia,
ao lado de Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley,
e de Gen Suwa, da Universidade
de Tóquio, para desenterrar mais
seis dentes do hominídeo na região do Médio Awash, uma das
mais ricas do mundo em fósseis
pré-humanos.
O elemento mais importante do
estudo, que sai na edição de hoje
da revista "Science" (www.sciencemag.org), são os caninos da
criatura. Com todo o respeito, nos
humanos modernos e na maioria
dos primitivos esses dentes são ridículos, de tão pequenos e sem
ponta. O mesmo não acontece
nos parentes mais próximos da
humanidade, os chimpanzés e gorilas, que têm verdadeiras adagas
na boca.
Acontece que os dentes encontrados no sítio de Asa Koma, embora não tão ameaçadores quanto
o de um chimpanzé, são bem
pontiagudos: "Eles são triangulares, como o que vemos nos grandes macacos", diz Haile-Selassie.
Isso sugere que a criatura estava
mesmo muito próxima da cisão
hominídeos-grandes macacos, e
talvez usasse seus dentes como até
hoje fazem os chimpanzés -nas
brigas entre machos. "Ao mesmo
tempo, pode ser que esses dentes
sejam apenas uma sobra evolutiva, e não funcionais", acautela-se
Haile-Selassie.
Se as conclusões do trio estiverem certas, as origens da humanidade foram bem menos complicadas do que muita gente andou
apostando ultimamente. Ao comparar o A. kadabba com seus parentes ligeiramente mais velhos, o
Orrorin tugenensis (Quênia, 6 milhões de anos) e o Sahelanthropus
tchadensis (Chade, entre 6 milhões e 7 milhões de anos), Haile-Selassie e seus colegas não encontraram diferenças significativas.
"As evidências que temos sugerem que pode ter existido apenas
um gênero de hominídeo nessa
época", afirma o etíope.
Mas não tão rápido, alerta o paleontólogo David Begun, da Universidade de Toronto (Canadá),
que comentou o estudo para a
"Science". "A maneira como você
interpreta esses achados depende
da sua filosofia de trabalho", diz.
"A evolução de outros grupos
mostra que não há uma progressão em forma de escada de uma
espécie para outra, mas uma espécie de "arbusto" -várias linhagens surgem e se extinguem e só
uma segue adiante", afirma. "O
único jeito de descobrir se isso
ocorreu nos hominídeos é seguir
o mantra dos paleontólogos: precisamos de mais fósseis!"
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