São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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ANTROPOLOGIA

Fóssil da Geórgia questiona teoria de que grande volume do cérebro ajudou migração para fora da África

Hominídeo de crânio pequeno ocupou Ásia

STEVE CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"

Um crânio espetacularmente preservado de um dos primeiros ancestrais dos humanos a sair da África, cerca de 1,75 milhões de anos atrás, foi desenterrado por cientistas da Geórgia. O crânio tem um dos menores cérebros entre os fósseis claramente humanos, indicando que os hominídeos não precisaram de cérebros grandes para fazer a jornada para fora do continente africano.
Os pesquisadores acharam o crânio e uma mandíbula aparentemente do mesmo indivíduo em Dmanisi, um sítio que já havia revelado fósseis de um tigre dente-de-sabre e de rinocerontes, veados e cavalos pré-históricos.
Trata-se do terceiro conjunto de restos de hominídeo atribuídos à espécie Homo erectus a ser descoberto no local. No entanto, o tamanho compacto do crânio, com sua crista orbital (osso proeminente na altura das sobrancelhas) fina e nariz curto -mas com enormes caninos- deixou maravilhados os cientistas, que acham que o indivíduo era uma fêmea.
Os traços do crânio são humanos, ainda que o cérebro não seja muito maior que o de um gorila. O povo que habitava Dmanisi há 1,75 milhões de anos provavelmente se parecia com os humanos e usava ferramentas de pedra.
"É impressionante. Procurando, você até encontraria um gorila com um cérebro daquele tamanho. Essas pessoas podem ter tido cabeças pequenas, mas eram bem similares a humanos", diz Chris Stringer, antropólogo do Museu de História Natural de Londres.
David Lordkipanidze, da Academia Georgiana de Ciências, em Tbilisi, publicou detalhes da descoberta na edição de hoje da revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org).
A diferença de tamanho entre esse crânio e dois outros, bem maiores, achados juntamente com ele sugere ou que havia duas espécies de hominídeo habitando o local ao mesmo tempo ou que a diferença de tamanho entre machos e fêmeas era muito maior entre os Homo erectus do que entre os humanos modernos.
"Aqui nós temos uma oportunidade de estudar uma população. Vemos uma diferença principalmente de tamanho, não de forma. Por enquanto, minha hipótese é que nós estamos vendo variabilidade dentro da mesma população", escreveu Lordkipanidze.



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