São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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MEDICINA

Americano usa droga para mudar comportamento de DNA de câncer

Gene "vira-casaca" derruba tumor

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A ciência vive atrás de truques para dar uma rasteira genética no câncer, mas desta vez parece que pesquisadores americanos deram de cara com um ovo de Colombo. Desligando um só gene, eles pararam o crescimento do tumor. Melhor ainda: quando a substância que suprimia o gene parava de agir, ele se ativava outra vez -mas a favor do organismo, ordenando a morte do câncer.
Se antes da droga o oncogene (criador de tumores) gerava o crescimento descontrolado das células, quando a substância parava de agir e ele voltava à ativa, sua ação destrutiva ficava exposta aos mecanismos de controle do organismo, que "convenciam" as células tumorais a cometer apoptose, o suicídio celular.
Por enquanto, o fato só foi confirmado em camundongos que tinham o oncogene MYC muito ativo, causando uma forma de câncer ósseo. "Acho que ainda é cedo para dizer se vai funcionar em outros tumores", disse à Folha Dean Felsher, da Universidade de Stanford, na Califórnia.
"Mas meus resultados sugerem que é possível tratar o câncer desligando brevemente o oncogene", afirma o médico. Potencial para testar o mesmo gene é o que não falta: o MYC está envolvido nos cânceres de mama, próstata e cólon, por exemplo.
A idéia inicial de Felsher e seus colegas era ver o que ocorria quando um oncogene era desativado e depois voltava a agir. Eles deram aos camundongos com câncer uma substância que impedia a ativação do gene e verificaram que as células cancerosas, antes imaturas e reproduzindo-se a esmo, passavam a se transformar em células ósseas normais.
Quando o bloqueador genético deixou de ser aplicado, o MYC voltou a funcionar, mas as células cancerosas sofreram apoptose em massa -só 1% sobreviveu.
Claro que essa facilidade toda talvez não se repetisse num câncer real: os camundongos, que desenvolveram artificialmente a doença, dependem de um só gene para tê-la. "Isso é algo que tem de ser considerado. Talvez a coisa funcione de outra forma em cânceres humanos", diz Felsher. O estudo saiu na revista "Science".



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