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Paparazzo do DNA leva Nobel de Química
Paul Sakuma/Associated Press
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O Nobel de Medicina de 1959 Arthur Kornberg (esq.) acompanha seu filho Roger, Nobel de Química de 2006, a entrevista coletiva |
O americano Roger Kornberg, de Stanford, fez a primeira imagem da transcrição da informação genética nas células
Premiado é filho de Arthur
Kornberg, que ganhou o
Nobel de Medicina de 1959
por descobrir mecanismo da
síntese biológica do DNA
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Flagrar o funcionamento do
vital maquinário celular rendeu para Roger Kornberg, 59,
professor da Escola de Medicina da Universidade Stanford,
na Califórnia, o Prêmio Nobel
de Química de 2006. O norte-americano ficará sozinho com
os 10 milhões de coroas suecas
(R$ 2,9 milhões) do laurel.
O mérito de Kornberg foi ter
flagrado, por meio de imagens
de raios-X feitas a partir de
2000, como a enzima RNA-polimerase funciona. Essa molécula é fundamental no processo
de leitura da informação genética do interior das células (veja
quadro abaixo, à direita).
"Obter esse resultado foi um
desafio muito grande para nós.
Apesar de ter sido o único indicado, tenho de dividir esse prêmio com todos os meus colaboradores", disse Kornberg durante entrevista coletiva telefônica ontem nos EUA. O pesquisador admitiu ter ficado "abalado", e continuado com esse estado de espírito por um bom
tempo, após o telefone tocar
em sua casa durante a madrugada. "Eram 2h30 da manhã.
Depois disso, meu dia tem estado agitado até agora."
Mil palavras
A imagem que registra como
os genes são transcritos é muito mais simbólica do que pode
parecer de imediato, sobretudo
em células dos eucariontes (organismos de células com núcleo definido), como os mamíferos. "No caso dos estudos
com células-tronco, entender
os processos básicos que estão
ocorrendo no nível celular é
muito importante", afirmou
Kornberg. Segundo ele, as aplicações médicas decorrentes
desse tipo de pesquisa já não
estão mais tão distantes.
O pesquisador brasileiro
Claudio Joazeiro, há 16 anos
nos EUA, tem feito alguns trabalhos em cooperação com o
novo Prêmio Nobel de Química. Para ele, o título está em
boas mãos. "É uma pessoa sobretudo muito ética", afirmou o
pesquisador. No ano passado,
Joazeiro e Kornberg e outros
colaboradores publicaram um
artigo em conjunto na revista
"Molecular Cell".
"Além da imagem da RNA-polimerase em ação, ele deu
muitas outras contribuições
para a ciência", disse Joazeiro.
Ele cita como exemplo que
Hornberg conseguiu mostrar
como a enzima polimerase faz
para transcrever o DNA, mesmo ele estando todo enrolado
dentro da célula, o que é um
grande obstáculo físico para o
processo. "A contribuição que
ele deu, nesses últimos 30 anos
é relevante para toda a biologia
estrutural, não apenas para o
processo de transcrição."
A Real Academia de Ciências
da Suécia, responsável pelo Nobel, resolveu exatamente premiar a descoberta dessas informações essenciais para o fluxo
das informações contidas no
DNA. Na justificativa oficial, o
título foi dado "pelos estudos
das bases moleculares da transcrição celular em eucariontes".
Ou seja, Kornberg jogou a luz
que faltava sobre a atuação da
enzima RNA-polimerase.
Para qualquer proteína ser
formada -e, se elas não estiverem funcionando, não existe vida- é fundamental que as informações presentes no DNA
sejam copiadas. Cabe exatamente à RNA-polimerase o
principal papel dentro dessa
espécie de máquina copiadora.
Ela é que promove a montagem
do RNA-mensageiro, molécula
que funciona como uma espécie de "negativo" do DNA, que,
no final da transcrição, comandará a síntese de proteínas.
De pai para filho
É por causa dessa contribuição para os fundamentos da
química que Kornberg vai pela
segunda vez em sua vida assistir a uma premiação de Nobel.
A diferença é que na cerimônia
do próximo 10 de dezembro os
papéis vão estar trocados. Enquanto o filho fica no palco, o
pai sentará na platéia.
"Me lembro da cerimônia de
1959, em Estocolmo, mas não
foi isso que despertou o meu interesse científico. Acho até que
já tinha ele antes mesmo de
participar daquela cerimônia"
disse ontem Roger Kornberg.
Há 47 anos, o laureado, na categoria de Fisiologia ou Medicina, era o pai dele, Arthur Kornberg, que também ficou eufórico com as notícias de ontem.
"Ele é uma pessoa muito disciplinada que sempre se dedicou bastante. Ontem [segunda-feira] até cheguei falar com ele
sobre a hipótese do Nobel, mas
ele não acreditou muito que seria possível", disse Arthur. Aos
88 anos e ainda na ativa, ele diz
ter certeza que a entrega do
prêmio, na Suécia, será uma
grande festa. "Tenho muitos
amigos lá", comentou. O primeiro laureado da família
Kornberg recebeu o prêmio em
1959 por ter descoberto a síntese biológica do DNA, processo
pelo qual a informação genética passa de uma célula-mãe a
uma filha, que abriu a porta para a engenharia genética.
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