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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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FÍSICA

Trio greco-russo sugere que fenômeno atmosférico misterioso visto por brasileiros seja miniatura do objeto astronômico

Buracos negros caem do céu, diz estudo

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Buracos negros são tidos pela maioria dos cientistas como objetos de difícil observação -exceto por um trio de pesquisadores da Grécia e da Rússia, que acaba de sugerir que versões em miniatura desses glutões cósmicos podem ser encontradas na própria atmosfera terrestre.
Esses miniburacos negros -objetos tão concentrados que nem a luz seria capaz de escapar deles, daí o nome- seriam tão instáveis que sua duração teria apenas um bilionésimo de bilionésimo de bilionésimo de segundo, segundo a revista britânica "New Scientist", a primeira a publicar relato sobre a pesquisa de Theodore Tomaras, da Universidade de Creta, e seus colegas Andrei Mironov e Alexei Morozov.
Trata-se de mais uma das teorias capazes de explicar um fenômeno descoberto há mais de três décadas por um grupo de cientistas brasileiros e japoneses, liderados por aqui pelo famoso físico Cesar Lattes, hoje com 79 anos.
O trabalho de observação foi feito numa instalação construída na Bolívia. O enigma foi confrontado pela primeira vez em 1972, quando os pesquisadores observaram um padrão de atividade atmosférica causada por raios altamente energéticos vindos do espaço.
Uma explosão rápida, com emissão de montes de partículas pesadas (os chamados hádrons, dos quais os representantes mais famosos são os prótons e os nêutrons) e um estranho padrão visual: a parte de cima bem menor que a de baixo. Por essa distribuição esquisita, o fenômeno foi batizado de centauro, ser mítico com corpo equino e tronco humano.
Até hoje, poucos eventos desse tipo foram observados. "Os dados são poucos. A comunidade internacional tem menos de uma dezena desses eventos registrados", afirma Edison Shibuya, da Unicamp, que participou do trabalho original e continua à procura de uma explicação satisfatória para o fenômeno. Seu modelo começa a se aproximar do que foi observado em duas ocasiões em que foram vistos centauros. Mas ainda há controvérsia.
"O modelo mais antigo, que ainda sobrevive até hoje, sugere que o fenômeno já começaria fora da atmosfera", diz Shibuya. "Mas para mim isso não bate."
Em vez disso, ele acha que o fenômeno é resultado da interação entre partículas vindas do espaço e o ar, num choque incomum de partículas. Devido às energias envolvidas, produziria uma infinidade de hádrons, como acontece em aceleradores de partículas.
O trio liderado pelo grego Tomaras vai ainda mais longe e sugere que o choque monumental produziria um buraco negro de dimensões mínimas. Tal fenômeno poderia existir por períodos ridiculamente curtos de tempo, segundo o pouco que se entende de efeitos gravitacionais na escala quântica. Para que essa explicação dos centauros esteja correta, entretanto, o Universo deveria ter mais que as quatro dimensões hoje conhecidas -tema de fortes debates hoje na física.
Talvez a razão esteja mesmo com Cesar Lattes. "Os centauros são um resultado empírico poucas vezes observado -de garantido, só temos um", disse. "É prematuro fazer teoria agora."


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