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DNA revela o destino dos judeus ibéricos
Linhagens paternas de espanhóis e portugueses têm 20% de genes de ancestrais judeus sefarditas e 11% de norte-africanos
Estudo revela impacto da conversão forçada desses povos após Reconquista cristã e dá pistas sobre
ancestrais dos brasileiros
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Que muitos portugueses e
brasileiros têm ancestrais judeus e mouros convertidos ao
cristianismo -os "cristãos-novos"- é algo conhecido pela
história e pela presença de sobrenomes como Pereira ou Oliveira. Cientistas da Europa e de
Israel, estudando o cromossomo masculino Y, demonstraram agora o grau dessa presença na península Ibérica.
O estudo revelou que, em
média, os espanhóis e portugueses têm 19,8% de genes de
ancestrais judeus sefarditas e
10,6% de ancestrais norte-africanos. Em alguns locais, como
o sul de Portugal, a mistura gênica de judeus chegou a 36,3%.
Mais do que refletir a ocupação moura de partes da península (veja quadro à direita), a
pesquisa revelou o impacto da
conversão forçada de muitos
muçulmanos e judeus após a
Reconquista cristã.
O estudo, chefiado por Mark
A. Jobling, da Universidade de
Leicester, Reino Unido, foi publicado ontem na revista "American Journal of Human Genetics". "O cromossomo Y foi estudado porque, de todas as partes do nosso genoma, ele mostra a maior diferenciação geográfica entre populações e, por
isso, pode nos permitir ver os
efeitos de migrações na península", disse Jobling à Folha.
Os pesquisadores checaram
a freqüência dos chamados haplogrupos (mutações de genes
do cromossomo Y) entre os homens dos dois lados do estreito
de Gibraltar e entre judeus sefarditas vivendo em Israel e em
outros locais do Mediterrâneo.
Entre portugueses e espanhóis, o haplogrupo mais comum foi o chamado R1b3*
-presente em 55% dos 1.140
espanhóis e portugueses testados. Já entre os norte-africanos o mais comum era o E3b2
(54% entre 361 cromossomos
testados); entre os sefarditas
nenhum haplogrupo predominou, mas três deles tiveram cada um freqüências em torno de
15% entre 174 cromossomos -
J2, J*(xJ2) e G.
"Nós também achamos traços das invasões norte-africanas no DNA mitocondrial,
transmitido por mulheres",
complementa outro autor do
estudo, Francesc Calafell, da
Universidade Pompeu Fabra,
de Barcelona, Espanha.
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