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Intolerância religiosa definiu migração antiga
DA REPORTAGEM LOCAL
Migrações causadas pela intolerância religiosa explicam os
achados da pesquisa. Por exemplo, depois de terminada a Reconquista, cerca de 200 mil
"moriscos" foram expulsos do
sul da Espanha, onde se temia
que pudessem constituir uma
"quinta coluna" aliada dos muçulmanos do norte da África.
O resultado "reflete a deportação dos mouros do sul para o
norte da Ibéria. Nós achamos
poucos traços de ancestralidade subsaariana em Portugal,
que não achamos na Espanha,
provavelmente por conta do
tráfico de escravos das colônias
africanas", diz o geneticista catalão Francesc Calafell, da Universidade Pompeu Fabra.
No fim do século 15, cerca de
160 mil judeus espanhóis foram expulsos. Muitos deles foram parar em Portugal. Segundo o historiador britânico
Charles Boxer, "judeu" e "português" eram praticamente sinônimos no imaginário popular espanhol no século 17. Boxer lembra que um administrador eclesiástico no Rio de Janeiro chegou a escrever ao rei
espanhol protestando contra
essa prática espanhola de associar o português com o judeu.
"O artigo lida com algo que
muitas vezes não nos damos
conta, que todos somos produto de uma história complexa de
miscigenação", diz o geneticista Fabricio Rodrigues dos Santos, da Universidade Federal de
Minas Gerais, que trabalhou
com o grupo britânico-espanhol em outro estudo, sobre
uma migração na península
bem anterior -a dos fenícios.
"Eu mesmo sou católico, mas
minha linhagem paterna do
cromossomo Y é a J2, típica de
judeus sefarditas. Provavelmente sou descendente de cristãos-novos que vieram ao Brasil devido à Inquisição", diz.
Entre 1500 e 1960, o Brasil
recebeu 5 milhões de imigrantes europeus, dos quais cerca de
2,9 milhões da península Ibérica -2,2 milhões de Portugal e
700 mil da Espanha, lembra
outro geneticista da UFMG,
Sergio Danilo Pena.
"Esse estudo tem interesse
para os brasileiros [porque] representa a caracterização de
uma das nossas principais raízes", diz Pena. "Entretanto (...)
pouco importa medicamente,
religiosamente, antropologicamente ou sociologicamente se
um imigrante ibérico para o
Brasil tinha o cromossomo Y
europeu, do norte da África ou
do Oriente Médio", afirma.
Pena e colegas também estudaram os cromossomos Y em
brasileiros e publicaram artigo
também no "American Journal
of Human Genetics" em 2001.
"Já havíamos identificado em
brasileiros proporções significativas de haplogrupos da África do Norte e do Oriente Médio,
vindos para cá através dos portugueses. Identificamos também migrações diretas de judeus marroquinos diretamente
da África do Norte para a região
Norte, Pará e Amazonas."
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