São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2008

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Intolerância religiosa definiu migração antiga

DA REPORTAGEM LOCAL

Migrações causadas pela intolerância religiosa explicam os achados da pesquisa. Por exemplo, depois de terminada a Reconquista, cerca de 200 mil "moriscos" foram expulsos do sul da Espanha, onde se temia que pudessem constituir uma "quinta coluna" aliada dos muçulmanos do norte da África.
O resultado "reflete a deportação dos mouros do sul para o norte da Ibéria. Nós achamos poucos traços de ancestralidade subsaariana em Portugal, que não achamos na Espanha, provavelmente por conta do tráfico de escravos das colônias africanas", diz o geneticista catalão Francesc Calafell, da Universidade Pompeu Fabra.
No fim do século 15, cerca de 160 mil judeus espanhóis foram expulsos. Muitos deles foram parar em Portugal. Segundo o historiador britânico Charles Boxer, "judeu" e "português" eram praticamente sinônimos no imaginário popular espanhol no século 17. Boxer lembra que um administrador eclesiástico no Rio de Janeiro chegou a escrever ao rei espanhol protestando contra essa prática espanhola de associar o português com o judeu.
"O artigo lida com algo que muitas vezes não nos damos conta, que todos somos produto de uma história complexa de miscigenação", diz o geneticista Fabricio Rodrigues dos Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais, que trabalhou com o grupo britânico-espanhol em outro estudo, sobre uma migração na península bem anterior -a dos fenícios.
"Eu mesmo sou católico, mas minha linhagem paterna do cromossomo Y é a J2, típica de judeus sefarditas. Provavelmente sou descendente de cristãos-novos que vieram ao Brasil devido à Inquisição", diz.
Entre 1500 e 1960, o Brasil recebeu 5 milhões de imigrantes europeus, dos quais cerca de 2,9 milhões da península Ibérica -2,2 milhões de Portugal e 700 mil da Espanha, lembra outro geneticista da UFMG, Sergio Danilo Pena.
"Esse estudo tem interesse para os brasileiros [porque] representa a caracterização de uma das nossas principais raízes", diz Pena. "Entretanto (...) pouco importa medicamente, religiosamente, antropologicamente ou sociologicamente se um imigrante ibérico para o Brasil tinha o cromossomo Y europeu, do norte da África ou do Oriente Médio", afirma.
Pena e colegas também estudaram os cromossomos Y em brasileiros e publicaram artigo também no "American Journal of Human Genetics" em 2001. "Já havíamos identificado em brasileiros proporções significativas de haplogrupos da África do Norte e do Oriente Médio, vindos para cá através dos portugueses. Identificamos também migrações diretas de judeus marroquinos diretamente da África do Norte para a região Norte, Pará e Amazonas."


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