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BIOTECNOLOGIA
Mosquito geneticamente modificado perde de inseto normal em longevidade e reprodução, diz estudo nos EUA
Aedes transgênicos têm menos filhotes
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ser um mosquito da dengue
transgênico não é um bom negócio: os insetos modificados põem
menos ovos, são menos férteis e
morrem com frequência muito
maior, de acordo com um estudo
de cientistas nos EUA. Os dados
sugerem que ainda vai demorar
muito antes que mosquitos sob
medida para não transmitir a
doença se tornem opções viáveis.
O desempenho das formas
transgênicas de Aedes aegypti só
não pareceu mais pífio porque ele
foi comparado com o de uma cepa do inseto criada em laboratório por mais de 30 anos -e que,
portanto, não precisava lidar com
os desafios da sobrevivência já há
um bom tempo.
"A nossa suspeita é que uma população realmente selvagem teria
se mostrado ainda mais vigorosa
que os transgênicos, já que a cepa
que usamos provavelmente tem
alto grau de consanguinidade",
afirma o especialista em controle
biológico neozelandês Mark
Hoddle, da Universidade da Califórnia em Riverside. Ele é o autor
principal do estudo que sai na edição de hoje da revista científica
"PNAS" (www.pnas.org).
Um sonho antigo de muitos
pesquisadores mundo afora é alterar o material genético de insetos transmissores de doenças para
diminuir ou até eliminar a capacidade dos animais de passar adiante os verdadeiros causadores de
moléstias, como o vírus da dengue ou o plasmódio, microrganismo que gera a malária. Isso poderia ser feito, por exemplo, dando
aos mosquitos genes de resistência aos causadores de doenças.
Antes do trabalho de Hoddle, já
havia sido verificado que a inserção de DNA estranho nos mosquitos do gênero Anopheles,
transmissores da malária, diminuía as chances de sobrevivência
dos insetos. O neozelandês e seus
colegas compararam o desempenho reprodutivo e de sobrevivência de três versões transgênicas do
Aedes aegypti com o inseto de laboratório a partir do qual elas foram criadas.
O gene estranho era, na verdade, apenas uma versão da GFP
(proteína fluorescente verde, na
sigla inglesa), usada para marcar
de forma visível os animais transgênicos. Cada grupo foi mantido
separado e só cruzou entre si.
Em todos os quesitos, os mosquitos normais ganhavam de goleada. Numa das ninhadas, por
exemplo, 64% dos insetos não-transgênicos viveram até a fase
adulta -o máximo que os transgênicos conseguiram foi 11%.
Uma vez adultos, os mosquitos
normais viviam mais tempo. As
fêmeas não-modificadas punham
mais ovos, e uma proporção
maior deles era viável em comparação com os postos por fêmeas
transgênicas.
Para Margareth de Lara Capurro, pesquisadora do Instituto de
Ciências Biomédicas da USP que
estuda mosquitos transgênicos, o
resultado não surpreende. "A alteração de apenas um gene já pode influir no comportamento do
mosquito." Por outro lado, diz
Capurro, os pesquisadores deveriam concentrar seus esforços em
achar genes de resistência às
doenças, coisa que não foi demonstrada com sucesso até agora, segundo ela.
"Ainda não temos idéia do que
aconteceu para diminuir o sucesso dos transgênicos. Pode ser que
o DNA estranho tenha se inserido
num gene importante e o tenha
alterado ou que ele próprio tenha
algum efeito nocivo nos mosquitos. Pretendemos investigar isso
daqui para a frente, assim como
formas de tornar a inserção mais
previsível", afirma Hoddle.
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