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COLUMBIA
Segundo engenheiros da Nasa, vôo tornou-se acidentado o bastante para que astronautas sentissem as manobras
Tripulação pode ter notado problema minutos antes
JOHN NOBLE WILFORD
DO "THE NEW YORK TIMES"
Eles provavelmente sabiam que
algo estava errado. Talvez só por
alguns segundos, mas possivelmente por vários e longos minutos, eles quase com certeza sabiam que as coisas não aconteciam conforme o planejado.
Em sua última órbita, o Columbia estava 283 km acima da Terra,
viajando a 28.000 km/h. Os astronautas estavam sentados. O comandante e o piloto ligaram jatos
de manobra para virar a nave, de
forma que ela voasse com sua
cauda na frente, para frear.
Astronautas que voaram no
ônibus espacial disseram que a
ida para casa era geralmente cheia
de suspense, mas calma e suave. A
decida começa com um leve jato
de dois pequenos foguetes.
Nada do que a Nasa revelou até
agora indica que os astronautas
suspeitassem da gravidade de sua
situação. Mas, embora fossem os
únicos com uma visão das janelas,
o comandante e o piloto do Columbia quase certamente estavam olhando para a tela dos computadores durante a reentrada.
"Com base na nossa familiaridade com a equipe e o treinamento, sabemos que é isso o que eles
faziam na descida", disse Ron Dittemore, gerente do programa de
ônibus espaciais.
Sinal de perigo
A equipe estava atenta a qualquer sinal de anormalidade, e um
deles ocorreu às 11h52 (horário de
Brasília). Naquele momento, sensores mostraram um aumento
anormal de temperatura perto do
trem de pouso esquerdo. Até
aquele momento, o vôo não parecia diferente de qualquer outra
missão anterior, diz Frederick
Hauck, um ex-astronauta que fez
três vôos em ônibus espaciais.
A descida do Columbia começou às 11h15 sobre o oceano Índico, conforme os quatro computadores de vôo ordenavam automaticamente que os motores do sistema de manobra orbital se ligassem por 2 minutos e 38 segundos,
diminuindo a velocidade.
"Dá para sentir aquele leve tranco", lembra Hauck. Depois disso,
o comandante e o piloto verificaram os dados para se certificar de
que o computador estava mantendo o ritmo correto de descida.
Conforme o planejado, jatos de
manobra viraram a nave para a
configuração de descida, ou "ângulo de ataque". O nariz foi apontado para cima num ângulo de
40, expondo a parte de baixo da
fuselagem e das asas ao impacto
do calor causado pelo atrito com a
atmosfera. Essa área da nave é
protegida por espessas pastilhas
de cerâmica resistentes ao calor.
O ângulo de ataque é crítico para a reentrada. Se for maior que
40, o ônibus espacial poderia ser
empurrado para trás. Suas superfícies mais vulneráveis estariam
expostas a um aumento catastrófico de calor. Se o ângulo de aproximação é mais fechado, a nave
entraria rápido demais na atmosfera. O superaquecimento também seria desastroso.
Às 11h45, meia hora antes do
pouso previsto, o ônibus espacial
entrou na atmosfera, a 120 km de
altura. A nave fez a transição de
ônibus espacial para planador. Os
jatos foram desligados, e os computadores instruíram os flaps das
asas a manter um curso firme.
O Columbia estava indo rápido
demais. Às 11h49, ele fez a primeira das três amplas curvas em forma de S que estavam planejadas,
primeiro à direita, depois à esquerda. Essas manobras ampliam
a permanência do ônibus espacial
na atmosfera, durante a qual pode
ser desacelerado pelo atrito.
Hauck rememora os primeiros
minutos de volta na atmosfera.
De repente, diz, começa a sensação de braços pesados, com a gravidade. Após dias "sem peso", os
astronautas têm de se esforçar para erguer os braços. O computador ainda está fazendo as manobras, e isso deveria continuar até
três minutos antes da descida,
quando os astronautas finalmente passam para controle manual.
Se algo tiver dado errado, diz
Rob Navias, porta-voz do Centro
Espacial Johnson, os astronautas
poderiam ter dado comandos aos
computadores. Isso não chegou a
ser feito. Para Hauck, isso provavelmente não seria feito, a não ser
em circunstâncias extremas, porque computadores podem reagir
mais rápido do que pessoas.
Calor excessivo
A reentrada se desencaminhou
às 11h52, como descreveu Dittemore. Nos três minutos seguintes,
sobre a Califórnia, as temperaturas dispararam no quarto e no
quinto circuitos de frenagem. Às
11h57, sobre o Arizona e o Novo
México, as temperaturas na superfície da asa esquerda já estavam fora da escala.
Algo parecia seriamente errado,
mas os problemas ocorriam tão
rapidamente que nem o controle
da missão nem os astronautas pareciam reconhecer o perigo, até
que fosse tarde demais.
Às 11h59, sobre o oeste do Texas, a asa esquerda estava com
problemas. Algo -uma pastilha
áspera ou ausente, ou algo insuspeitado- estava causando uma
força de arrasto na asa. Os computadores de vôo responderam
mandando a nave virar e inclinar-se. Era um esforço desesperado
para manter o curso, talvez estressante demais para a velha nave.
Hauck diz que a tripulação "teria visto flutuações nos controles
de vôo" nos computadores.
No domingo, Dittemore parecia
pensar que os astronautas não tinham sentido as manobras corretivas. Com mais informação, porém, na segunda-feira ele disse
que a nave estava corcoveando
mais do que tinham pensado.
"O que está se tornando de interesse para nós é a taxa de mudança", diz. "As superfícies aerodinâmicas estavam fazendo o que precisavam para contrabalançar o arrasto no lado esquerdo do veículo. Os jatos da direita tiveram de
entrar em ação para ajudar."
Parece que o controle do sistema estava "perdendo terreno"
nos esforços para estabilizar o Columbia, diz. O trajeto estava ficando mais e mais acidentado. "Não
foi muito depois desse ponto que
perdemos todos os dados e a comunicação com a tripulação."
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