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Governo holandês
aponta novo erro
de painel do clima
Cientistas pedem renúncia de líder do IPCC, Rajendra
Pachauri, que tem apoio da Índia para ficar no cargo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O IPCC, o painel do clima das
Nações Unidas, sofreu mais um
golpe ontem. O governo da Holanda apontou mais um erro no
relatório do painel sobre os impactos do aquecimento global,
dizendo que um dado que forneceu ao grupo foi mal interpretado. O IPCC afirmou que
está verificando o assunto.
No relatório, o painel do clima afirma que 55% do território holandês já está abaixo do
nível do mar. "Deveria estar escrito que 55% da Holanda está
sob risco de inundação", afirmou em comunicado a Agência
Holandesa de Avaliação Ambiental: 26% do país está abaixo
do nível do mar e 29% está sob
risco de alagamento por rios.
Seria apenas uma trivialidade -a própria agência emenda
que a Holanda é sensível à mudança climática e que a "redação incorreta" do IPCC não
muda essa conclusão-, se o
painel do clima e seu presidente, Rajendra Pachauri, já não
estivessem na berlinda.
No mês passado, Pachauri
veio a público admitir que havia um erro numa previsão que
consta do relatório de que as
geleiras do Himalaia derreteriam até 2035. No fim do ano
passado, quando o governo indiano questionou a informação, Pachauri insistiu em que
ela estava correta. A origem do
dado era uma reportagem.
Na semana passada, outro
problema apareceu: uma informação sobre a porção da Amazônia sensível a mudanças no
regime de chuvas foi extraída
de um relatório do WWF, não
de um artigo da literatura científica -embora neste caso a informação esteja correta.
E uma reportagem do jornal
britânico "The Guardian" publicada no dia 1º afirma que o
britânico Phil Jones, um dos
cientistas do painel, escondeu
falhas em dados de temperatura de uma estação meteorológica chinesa que usou em seu trabalho. Jones já havia renunciado a seu posto de diretor da
Unidade de Pesquisa Climática
da Universidade de East Anglia
depois que um arquivo de e-mails supostamente roubado
por negacionistas do aquecimento global revelou conduta
duvidosa dele e de colegas.
Fora, Pachauri
A sequência de problemas fez
cientistas do próprio painel e
ambientalistas pedirem a renúncia de Pachauri.
O indiano disse anteontem,
numa entrevista à TV britânica
BBC, que não pretende sair.
Ontem, recebeu apoio do governo de seu país.
"Como líder, ele é passível de
responsabilização pela maneira como lida com óbvios desvios ocorridos sobretudo no
grupo 2 [que lida com impactos]", disse o físico Gylvan Meira Filho, da USP, ex-membro
do IPCC. "Deveria renunciar."
Sem má-fé
Um dos coordenadores do
relatório do grupo 2, Ulisses
Confalonieri, da Fiocruz de Belo Horizonte, diz que o indiano
é um líder "muito hábil" e que o
IPCC não é imune a falhas. "Se
saiu um erro, erraram os autores e erraram os revisores."
Segundo ele, o problema é
que o trabalho do painel tem
uma visibilidade muito grande.
"Qualquer passo em falso e todo mundo cai em cima, diz que
é má-fé. Mas os instrumentos
de análise têm incertezas, como qualquer coisa em ciência."
Confalonieri cita um dado
que ele mesmo mandou excluir
do sumário executivo do relatório, por exagerado. "Era uma
projeção da Organização Mundial da Saúde que dizia que 150
mil pessoas haviam morrido
por impacto do clima na saúde.
Mas a metodologia usada era
muito incipiente", lembra.
Segundo ele, o trabalho do
painel não sairá arranhado do
episódio. "Pode haver uma perda temporária de credibilidade,
mas depois ela se recupera."
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