São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997.

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Obra traz fósseis

da Reportagem Local

A nova edição de "Ornitologia Brasileira" apresenta um capítulo especial sobre aves fósseis no Brasil.
Escrito pelo médico ortopedista e paleontólogo amador Herculano Alvarenga, o capítulo revela que a maior ave que existiu na Brasil era carnívora e media 2 m. O tamanho de sua cabeça era equivalente à de um cavalo.
Alvarenga, que faz doutorado em zoologia na USP, descobriu fósseis do gigantesco Paraphysornis brasiliensis no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, em um sítio paleontológico na bacia de Taubaté.
Era uma ave não-voadora, que viveu há cerca de 22 milhões de anos, no período Oligo-Mioceno.
Ao que tudo indica, não era uma grande corredora e provavelmente era necrófaga, ou seja, alimentava-se de animais mortos.
Os fósseis encontrados por Alvarenga representam 70% do esqueleto da ave pré-histórica.
Aves e répteis têm um ancestral comum, ao que tudo indica um animal pertencente a um grupo de dinossauros chamado dinossauros celurossauros.
Segundo Alvarenga, essa transição entre répteis e aves teria ocorrido há 150 milhões de anos.
Há 100 milhões de anos, no período Cretáceo, ``as aves estavam muito bem formadas, com a aparência das de hoje''.
Na América do Sul, a mais antiga ave conhecida é a Patagopteryx deferrariisi, da Argentina, que tinha o tamanho de uma galinha doméstica, pernas alongadas, não voava e teria vivido há aproximadamente 85 milhões de anos.
O primeiro trabalho sobre aves fósseis do Brasil foi escrito por O. Winge (1888), com base em material coletado em cavernas da região da Lagoa Santa (MG).
O Diogenornis fragilis pertence à família das aves ratitas, grupo ao qual pertencem, por exemplo, o avestruz e a ema, é o mais antigo representante dessa família dentro do Cenozóico. Seus fósseis, de cerca de 55 milhões de anos, foram descobertos na bacia de Itaboraí, no Rio de Janeiro.
Da bacia de Taubaté vieram os fósseis do Brasilogyps faustoi,, um urubu fóssil que é o mais antigo representante da família na América do Sul.
Alvarenga destaca que o Patagopteryx apresenta semelhanças com aves ratitas atuais da Austrália. Para ele, isso é uma evidência de que a América do Sul era ligada à Austrália no antigo continente de Gondwana.
O paleontólogo diz que o condor, ave falconiforme que habita os Andes, viveu há cerca de 9.000 anos em regiões próximas a Belo Horizonte.
Segundo Alvarenga, o Brasil não é um país muito rico em fósseis, já que o terreno é estável. Na região próxima dos Andes, em que existe movimentação do terreno, encontram-se com mais facilidade fósseis.
Ele cita o Chile, a Bolívia e o Peru como países sul-americanos mais propícios às descobertas.
No Brasil, além da bacia do Taubaté e de cavernas da Bahia e Minas Gerais, ele destaca o Acre como importante sítio. Grandes quantidades de ossos ainda aguardam estudos.

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