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PALEONTOLOGIA
Osso de 365 milhões de anos sugere que os braços surgiram para facilitar a locomoção de animais aquáticos
Fóssil americano é "elo perdido" de animais terrestres
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Não é bem um braço, mas também já não é mais uma barbatana.
"Elo perdido" parece a expressão
mais adequada para descrever o
fóssil descoberto no Estado norte-americano da Pensilvânia: apenas
um osso, mas que pode documentar um momento fundamental na transição dos primeiros vertebrados que deixaram de ser peixes e invadiram a terra.
"Suspeito que ele esteja muito
próximo da origem não só dos
anfíbios, mas de todos os animais
terrestres de hoje, como répteis e
mamíferos", afirma o paleontólogo Neil Shubin, 43, da Universidade de Chicago. Ele coordenou a
análise do único ossinho -um
úmero, análogo ao que todos os
seres humanos têm na primeira
metade do braço- na última edição da revista "Science"
(www.sciencemag.org).
Por estar isolado em meio a
uma profusão de restos de outros
vertebrados primitivos, todos
achados na encosta de um barranco ao lado de uma rodovia na
Pensilvânia, o úmero ainda não
ganhou nome de espécie, sendo
batizado apenas com o código
ANSP 21350. Mesmo assim, o ossinho fossilizado oferece um verdadeiro tesouro de pistas sobre o
funcionamento dos primeiros
membros -como a de que, pelo
jeito, eles não serviam para andar
em terra, ao menos na maior parte do tempo.
"O encaixe do nosso úmero nos
ombros é uma espécie de cilindro.
O desse animal era achatado", explica Shubin. "Nós conseguimos
descrever um círculo com o movimento do nosso braço, mas ele
provavelmente só conseguia ir
para a frente e para trás. Estamos
falando de uma plataforma estável, sólida e forte."
Esses detalhes de anatomia,
aliados às marcas ósseas de uma
musculatura poderosa ligando o
úmero ao peito do animal, sugerem que ele usava o braço bem ao
estilo de alguém que faz flexões
peitorais hoje em dia.
Shubin especula que o proto-anfíbio precisasse disso para subir
à tona e respirar ar -coisa que
muitos peixes primitivos ainda fazem, por incrível que pareça- ou
para se estabilizar na água turbulenta do rio onde vivia, um delta
quase tão vasto e movimentado
quanto o do rio Amazonas.
Ou seja: tudo indica que braços
e pernas não surgiram para caminhar em terra firme, mas foram
cooptados para resolver esse problema, à medida que sair da água
foi se tornando uma estratégia interessante no jogo da evolução. A
criatura descoberta por Shubin,
que tem em torno de 365 milhões
de anos, sugere como tudo pode
ter começado.
O protótipo de salamandra provavelmente era um gigante entre
seus parentes da área, com seus
prováveis 60 centímetros de comprimento, mas não era páreo para
os peixes primitivos de mais de
três metros e dentes afiados que
rondavam seu rio. "A superfície
do osso tem marcas de perfuração
grave, o que sugere que ele tenha
sido devorado", afirma Shubin.
De qualquer forma, o tamanho
avantajado parece mostrar que
ele pertence mesmo a uma espécie até agora desconhecida.
Tudo indica que esse ancestral
remoto era bem diferente de qualquer bicho de hoje em estilo de vida ou movimentação. "Os anfíbios de hoje são formas especializadas e relativamente recentes,
com uns 200 milhões de anos",
avalia Shubin. "No máximo, talvez possamos compará-lo a um
tipo primitivo de salamandra."
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