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MEDICINA
Número de pessoas infectadas por transfusão de sangue no Reino Unido precisa ser recalculado, indicam estudos
Mal da vaca louca pode ser mais freqüente
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma bomba-relógio ronda os
britânicos. Três estudos publicados hoje da revista médica "The
Lancet" (www.thelancet.com)
mostram que pode haver mais
pessoas no Reino Unido sujeitas à
doença de Creutzfeldt-Jacob, variação humana do mal da vaca
louca, do que se pensa.
A doença é causada por uma
proteína, um príon celular, que
muda de forma e se junta em placas no cérebro, esburacando-o.
Até hoje, 147 pessoas morreram.
Um artigo assinado pelo britânico James Ironside, da Unidade
Nacional de Vigilância Contra a
Doença de Creutzfeldt-Jacob,
conta a história de um paciente
idoso que havia recebido, em
1999, uma transfusão de sangue
contaminado -o doador morreu
em 2001 vítima da doença.
Cinco anos depois, foi a vez de o
receptor do sangue morrer, mas
de um aneurisma, sem ligação
com o mal. O exame póstumo,
que buscou uma reação imunológica ao príon, mostrou que ele estava contaminado, porém de forma mais amena. Tampouco houve reação ao príon no cérebro e na
medula -apenas no baço, que fica no início do caminho imunológico percorrido pela proteína infecciosa dentro do corpo.
Risco duplo
A diferença entre esse paciente e
os demais, diz Ironside, está nos
seus genes: ele era um heterozigoto, ou seja, tinha apenas uma cópia do gene que confere vulnerabilidade à doença. Até hoje, achava-se que só pacientes homozigotos -com duas cópias do gene-
desenvolvessem a doença.
Geralmente, o tempo de incubação é de cinco a seis anos. "Se o
príon foi encontrado em um heterozigoto, isso significa que a
doença pode ficar latente por
mais tempo", disse à Folha o pesquisador Jerson Lima Silva, da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Além disso, esse perfil genético é mais comum entre a população do que o anterior.
"É possível que haja uma nova
epidemia, porque os casos que conhecemos podem representar
apenas aqueles mais suscetíveis,
com um período mais curto de incubação", comentou o cientista
britânico. "Precisamos refazer todos os cálculos sobre novos casos
com base apenas nesse paciente."
No mesmo pacote de pesquisas
publicado pela "Lancet", uma
equipe da Universidade de Maryland, nos EUA, analisou a filtragem de células brancas para evitar
novas contaminações por transfusões sangüíneas. A técnica foi
introduzida em 1999 no Reino
Unido e é bastante difundida hoje
no país como forma de evitar novas contaminações.
Ao testar o método em roedores, os cientistas descobriram que
a infecção é reduzida apenas em
40%. O terceiro estudo propõe
uma nova técnica de descontaminação de instrumentos cirúrgicos,
uma vez que os usados atualmente ou não livram os equipamentos
do príon ou os destroem.
Os estudos devem abrir uma
nova discussão sobre como lidar
com a doença no Reino Unido,
país mais afetado. Ainda não existem métodos efetivos de detecção
da proteína em amostras de sangue. "Os existentes são muito lentos ou pouco eficientes", disse Silva. Comprar sangue de outros
países e assim evitar novas infecções é financeiramente proibitivo.
Cerca de 3 milhões de unidades
de sangue são ministradas no Reino Unido por ano.
Ironside lembra que a infecção
nunca poderia ser detectada sem
o exame póstumo. "Apesar de
não haver sintomas, o paciente
ainda poderia ser uma fonte de
infecção." Se doasse sangue, a
doença poderia ser transmitida.
O último pico da doença aconteceu em 2000, quando 28 pessoas
morreram.
Com agências internacionais
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