São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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ESPAÇO

Local de pouso do jipe Spirit é alvo de bateria de estudos e frustra cientistas com poucos sinais da presença do líquido

Nasa sofre com a falta d'água em Marte

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles esperavam encontrar o leito de um antigo lago marciano. Não aconteceu. É com esse gosto agridoce que sai hoje a bateria de estudos relacionada aos primeiros 90 dias da missão do jipe robótico Spirit em Marte.
"Para alguns cientistas, foi uma decepção", conta Paulo Antônio de Souza Júnior, físico da Companhia Vale do Rio Doce em Vitória (ES) que está participando da missão e é co-autor de dois dos 11 artigos publicados hoje no periódico científico "Science" (www.sciencemag.org).
"A primeira análise que fizemos do solo, em 7 de janeiro, foi uma surpresa para nós", conta o pesquisador. "Achamos um monte de basalto. Não só as imagens, mas a composição do solo era muito parecida com a de outros locais visitados antes em Marte."
Pistas obtidas de imagens capturadas em órbita sugeriam que o interior de uma cratera chamada Gusev podia ter abrigado um lago em tempos remotos. A missão do Spirit, iniciada em janeiro, deveria confirmar isso. Não deu.
"Até vimos alguns sinais de hematita [mineral formado na presença de água], mas ela indicava a existência passada de água de percolação - que surge na superfície e logo depois evapora", explica Souza Júnior. Então, o que produziu o aparente leito de rio que atravessa a planície e adentra Gusev, onde pousou o jipe?
"Uma explicação bem razoável é a de que tenha sido um evento único e rápido -a água passou abruptamente, entrou e evaporou", diz o físico brasileiro.
Supõe-se que os sinais mais claros da passagem de água tenham sido apagados depois por atividade vulcânica -tema que, aliás, também ganhou destaque ontem, com a apresentação de evidências de que Marte pode ter tido vulcanismo recente. A tese foi levantada a partir de imagens da sonda européia Mars Express.
A conclusão dos cientistas veio da contabilização de crateras em vulcões marcianos -quanto mais velhos são, mais tempo tiveram para sofrer o impacto de meteoritos. Os pesquisadores europeus estimam, a partir das novas imagens, que alguns dos vulcões podem ter sido ativos até mesmo 1 milhão de anos atrás -um piscar de olhos, em geologia.
Mas contagens similares já foram feitas antes, e os novos resultados estão longe de ser conclusivos. "Não seremos capazes de validar ou refutar essas hipóteses sem determinação da idade ou retorno de amostras apropriadas para análise", diz James Garvin, chefe do programa de exploração lunar e marciana da Nasa.
Apesar dos resultados com o Spirit, Marte continua sendo um lugar interessante para a busca de vida fora da Terra, e os resultados científicos do Opportunity -gêmeo do Spirit, que explora o lado oposto do planeta-, a serem publicados também na "Science", prometem trazer toda a água de que os cientistas precisam.


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