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ESPAÇO
Local de pouso do jipe Spirit é alvo de bateria de estudos e frustra cientistas com poucos sinais da presença do líquido
Nasa sofre com a falta d'água em Marte
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles esperavam encontrar o leito de um antigo lago marciano.
Não aconteceu. É com esse gosto
agridoce que sai hoje a bateria de
estudos relacionada aos primeiros 90 dias da missão do jipe robótico Spirit em Marte.
"Para alguns cientistas, foi uma
decepção", conta Paulo Antônio
de Souza Júnior, físico da Companhia Vale do Rio Doce em Vitória
(ES) que está participando da
missão e é co-autor de dois dos 11
artigos publicados hoje no periódico científico "Science"
(www.sciencemag.org).
"A primeira análise que fizemos
do solo, em 7 de janeiro, foi uma
surpresa para nós", conta o pesquisador. "Achamos um monte
de basalto. Não só as imagens,
mas a composição do solo era
muito parecida com a de outros
locais visitados antes em Marte."
Pistas obtidas de imagens capturadas em órbita sugeriam que o
interior de uma cratera chamada
Gusev podia ter abrigado um lago
em tempos remotos. A missão do
Spirit, iniciada em janeiro, deveria confirmar isso. Não deu.
"Até vimos alguns sinais de hematita [mineral formado na presença de água], mas ela indicava a
existência passada de água de percolação - que surge na superfície
e logo depois evapora", explica
Souza Júnior. Então, o que produziu o aparente leito de rio que
atravessa a planície e adentra Gusev, onde pousou o jipe?
"Uma explicação bem razoável
é a de que tenha sido um evento
único e rápido -a água passou
abruptamente, entrou e evaporou", diz o físico brasileiro.
Supõe-se que os sinais mais claros da passagem de água tenham
sido apagados depois por atividade vulcânica -tema que, aliás,
também ganhou destaque ontem,
com a apresentação de evidências
de que Marte pode ter tido vulcanismo recente. A tese foi levantada a partir de imagens da sonda
européia Mars Express.
A conclusão dos cientistas veio
da contabilização de crateras em
vulcões marcianos -quanto
mais velhos são, mais tempo tiveram para sofrer o impacto de meteoritos. Os pesquisadores europeus estimam, a partir das novas
imagens, que alguns dos vulcões
podem ter sido ativos até mesmo
1 milhão de anos atrás -um piscar de olhos, em geologia.
Mas contagens similares já foram feitas antes, e os novos resultados estão longe de ser conclusivos. "Não seremos capazes de validar ou refutar essas hipóteses
sem determinação da idade ou retorno de amostras apropriadas
para análise", diz James Garvin,
chefe do programa de exploração
lunar e marciana da Nasa.
Apesar dos resultados com o
Spirit, Marte continua sendo um
lugar interessante para a busca de
vida fora da Terra, e os resultados
científicos do Opportunity -gêmeo do Spirit, que explora o lado
oposto do planeta-, a serem publicados também na "Science",
prometem trazer toda a água de
que os cientistas precisam.
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