|
Próximo Texto | Índice
Cientistas acham estrutura cerebral que controla febre
Experimento criou roedor alterado sem reação febril como sintoma de inflamação
Segundo pesquisador da Universidade Harvard que liderou o estudo, descoberta pode levar a medicamentos antitérmicos mais precisos
Alessia Piedormenico/Reuters
|
Experimento nos EUA usou camundongos com genes alterados |
DA REDAÇÃO
Uma pequena região do cérebro ("do tamanho de uma cabeça de alfinete") é o centro responsável por desencadear a febre durante processos inflamatórios, revela um estudo publicado ontem. Segundo os autores do trabalho, baseado em experimentos com camundongos, a descoberta pode ser a base para a síntese de drogas
antitérmicas mais precisas.
Em artigo na revista "Nature
Neuroscience", os cientistas
mostram que uma região minúscula do hipotálamo -estrutura cerebral envolvida em funções variadas, como fome a desejo sexual- medeia a reação
febril no corpo dos roedores.
"Acreditamos que isso é exatamente o que acontece no cérebro dos humanos também",
disse Clifford Saper, pesquisador da Escola Médica de Harvard, em Boston (EUA), que liderou o estudo.
O trabalho de Saper se baseou no estudo da ação da dinoprostona, hormônio da classe
das prostaglandinas, responsáveis por mediar diversas reações a inflamações.
Quando as pessoas adoecem,
os glóbulos brancos (células de
defesa do sangue) produzem
moléculas chamadas citocinas,
que agem nos vasos sangüíneos
do cérebro estimulando a produção de dinoprostona. "Isso
desencadeia as reações do cérebro durante uma infecção ou
inflamação", explica Saper.
A febre, na verdade, é um mecanismo natural do corpo para
ajudar o sistema imune, pois os
glóbulos brancos agem com
mais eficácia em ambientes de
temperatura ligeiramente mais
alta. A sensação febril também
induz a um comportamento
mais adequado. "Os indivíduos
tendem a ficar doloridos e letárgicos", explica Saper. "Tendem a não se esforçar e, por isso, acabam conservando energia para combater a infecção."
DNA alterado
Os pesquisadores já sabiam
que a dinoprostona agia no hipotálamo, mas não exatamente
em quais partes dele. Para descobrir isso, usaram técnicas de
manipulação de DNA para eliminar em camundongos os genes que codificam moléculas
chamadas EP3 -elas são "receptores" que ficam na superfície de alguns tipos de neurônio,
e é por meio delas que essas células reagem à prostaglandina.
Acontece que há muitas células cerebrais que exibem receptores EP3, mas administram
outros tipos de sensação, como
cansaço e saciedade. Saper, porém, mostrou que um grupo de
células com EP3 está em um
ponto de convergência do cérebro que administrar a febre.
"O que nós descobrimos é
que se você tira tira os receptores EP3 apenas deste local do
tamanho da cabeça de um alfinete, você não terá mais uma
reação febril", diz Saper.
Se o mecanismo descoberto
em roedores for mesmo igual
em humanos, isso abre a perspectiva para novos tipos de medicamentos, mais precisos. Remédios como a aspirina agem
em todos os receptores de prostaglandina no corpo, e acabam
levando a diversos outros efeitos além do antitérmico.
Segundo Saper, seu estudos
sobre a dinoprostona também
podem auxiliar pesquisadores
que lidam com o efeito dessa
molécula em falta de apetite e
fadiga associada a infecções.
"Ao final, pode ser possível
manipular esses circuitos com
drogas", diz o cientista. "O segredo é saber quais circuitos estão envolvidos em cada uma
dessas coisas."
Com Reuters
Próximo Texto: Biologia experimental: Roedoras com olfato alterado se comportam como machos Índice
|