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Filme premiado em Cannes vai compensar emissões de carbono
"Linha de Passe", de Walter Salles, plantará árvores em parque estadual do Rio
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Antes de chegar a Cannes e
arrebatar o prêmio de melhor
atriz para Sandra Corveloni,
em maio, o filme "Linha de Passe", de Walter Salles, liberou na
atmosfera pelo menos 118.164
toneladas de CO2 equivalente,
unidade de medida padrão para os gases do efeito estufa. A
produtora do filme, que estreou ontem em todo o país,
pretende agora compensar essas emissões com o plantio de
três hectares de floresta e a
conservação de outros dois.
A lógica da compensação é
que as árvores, ao crescerem,
fixam carbono retirado da atmosfera em forma de biomassa
(tronco, folhas e raízes, por
exemplo). O gás carbônico é o
principal responsável pelo
aquecimento global, e compensações desse tipo têm virado
uma febre entre as empresas.
O reflorestamento ocorrerá
no parque estadual da Pedra
Branca, na zona oeste do Rio
-apesar de o filme ter sido rodado na periferia paulistana.
"A preservação de uma área no
Rio, em São Paulo ou na Amazônia é uma ação que acaba
afetando positivamente o país
como um todo", justifica Salles.
O diretor ressalta ainda que,
com a iniciativa, não está apenas neutralizando as emissões
de "Linha de Passe", mas também de projetos futuros da Videofilmes. É que cada hectare
será capaz de seqüestrar em
média 380 toneladas de carbono por ano, bem acima do total
emitido durante as filmagens.
Responsabilidade
O cálculo é da Secretaria de
Estado do Ambiente do Rio. O
órgão está por trás da parceria
firmada com o cineasta, que
inaugura o chamado Parque do
Carbono. O projeto prevê a recuperação de áreas degradadas
pela iniciativa privada. Segundo a secretária Marilene Ramos, une o interesse estatal de
resgatar a cobertura vegetal nativa à estratégia privada de
compensar sua parcela de culpa no aquecimento global.
Culpa que Salles parece já ter
reconhecido. "O fato de o cinema ser uma atividade cultural
não o isenta de responsabilidades em outras áreas. Poluímos
como qualquer outra atividade,
porque utilizamos meios de
transporte para levar os equipamentos e buscar atores, utilizamos eletricidade e química
para revelar o negativo etc.",
explica. "Para parafrasear [o filósofo Jean-Paul] Sartre, a gente sempre tende a achar que o
inferno é o outro. Na verdade,
nós somos parte do problema."
O plantio está previsto para
começar em 21 de setembro,
Dia da Árvore. Será conduzido
pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica
da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, sob orientação e supervisão do Instituto
Estadual de Florestas, ligado à
secretaria. Segundo Ramos, serão plantadas cerca de 9.000
mudas de árvores nativas.
Valor
A recuperação e a conservação da área custará a Videofilmes R$ 150 mil. O valor, que
não foi incluído no orçamento
do "Linha de Passe", representa menos de 3,5% do custo total
do longa, de R$ 4,5 milhões, e
será desembolsado ao longo
dos próximos quatro anos. Nesse período, explica Ramos, a
empresa contratada pela produtora terá que zelar pelo crescimento das mudas, substituindo as que não vingarem.
"A compensação das emissões só ocorre depois de muitos
anos", justifica a secretária. "É
preciso garantir que as árvores
cresçam sem problemas."
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