São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Filme premiado em Cannes vai compensar emissões de carbono

"Linha de Passe", de Walter Salles, plantará árvores em parque estadual do Rio

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Antes de chegar a Cannes e arrebatar o prêmio de melhor atriz para Sandra Corveloni, em maio, o filme "Linha de Passe", de Walter Salles, liberou na atmosfera pelo menos 118.164 toneladas de CO2 equivalente, unidade de medida padrão para os gases do efeito estufa. A produtora do filme, que estreou ontem em todo o país, pretende agora compensar essas emissões com o plantio de três hectares de floresta e a conservação de outros dois.
A lógica da compensação é que as árvores, ao crescerem, fixam carbono retirado da atmosfera em forma de biomassa (tronco, folhas e raízes, por exemplo). O gás carbônico é o principal responsável pelo aquecimento global, e compensações desse tipo têm virado uma febre entre as empresas.
O reflorestamento ocorrerá no parque estadual da Pedra Branca, na zona oeste do Rio -apesar de o filme ter sido rodado na periferia paulistana. "A preservação de uma área no Rio, em São Paulo ou na Amazônia é uma ação que acaba afetando positivamente o país como um todo", justifica Salles.
O diretor ressalta ainda que, com a iniciativa, não está apenas neutralizando as emissões de "Linha de Passe", mas também de projetos futuros da Videofilmes. É que cada hectare será capaz de seqüestrar em média 380 toneladas de carbono por ano, bem acima do total emitido durante as filmagens.

Responsabilidade
O cálculo é da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio. O órgão está por trás da parceria firmada com o cineasta, que inaugura o chamado Parque do Carbono. O projeto prevê a recuperação de áreas degradadas pela iniciativa privada. Segundo a secretária Marilene Ramos, une o interesse estatal de resgatar a cobertura vegetal nativa à estratégia privada de compensar sua parcela de culpa no aquecimento global.
Culpa que Salles parece já ter reconhecido. "O fato de o cinema ser uma atividade cultural não o isenta de responsabilidades em outras áreas. Poluímos como qualquer outra atividade, porque utilizamos meios de transporte para levar os equipamentos e buscar atores, utilizamos eletricidade e química para revelar o negativo etc.", explica. "Para parafrasear [o filósofo Jean-Paul] Sartre, a gente sempre tende a achar que o inferno é o outro. Na verdade, nós somos parte do problema."
O plantio está previsto para começar em 21 de setembro, Dia da Árvore. Será conduzido pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, sob orientação e supervisão do Instituto Estadual de Florestas, ligado à secretaria. Segundo Ramos, serão plantadas cerca de 9.000 mudas de árvores nativas.

Valor
A recuperação e a conservação da área custará a Videofilmes R$ 150 mil. O valor, que não foi incluído no orçamento do "Linha de Passe", representa menos de 3,5% do custo total do longa, de R$ 4,5 milhões, e será desembolsado ao longo dos próximos quatro anos. Nesse período, explica Ramos, a empresa contratada pela produtora terá que zelar pelo crescimento das mudas, substituindo as que não vingarem.
"A compensação das emissões só ocorre depois de muitos anos", justifica a secretária. "É preciso garantir que as árvores cresçam sem problemas."


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