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PSIQUIATRIA
Inalação de gás carbônico pode desencadear ataques e identificar vítimas do transtorno, dizem cientistas do Rio
Brasileiros criam diagnóstico para pânico
LUISA MASSARANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O gás carbônico (CO2) expelido
durante a respiração pode ser
uma ferramenta para o diagnóstico e o tratamento do transtorno
do pânico, mal que atinge cerca
de 3% da população mundial. É o
que estão demonstrando pesquisadores dos institutos de Psiquiatria e de Biofísica Carlos Chagas
Filho, ambos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O transtorno do pânico envolve
crises de ansiedade sem motivo
aparente, que incluem taquicardia e falta de ar. Os sintomas são
seguidos da sensação de estar
enlouquecendo, perdendo o controle sobre o corpo ou morrendo.
Com o tempo, a pessoa desenvolve hipocondria e fobias (medos
excessivos não-justificados).
O estudo conduzido na UFRJ
inclui um exame de fácil e rápida
aplicação. O paciente inspira, por
poucos segundos, uma mistura
gasosa com CO2 e O2 (oxigênio),
sob acompanhamento médico.
"O teste não provoca alterações
em indivíduos que não têm o
transtorno do pânico, mas os pacientes que apresentam o mal se
referem a sintomas parecidos
àqueles vivenciados durante o
ataque de pânico", explica Walter
Zin, diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.
"As inalações com a mistura de
CO2 permitem diferenciar claramente indivíduos com transtorno
de pânico daqueles que não o
têm", afirma Antonio Egidio Nardi, do Instituto de Psiquiatria, outro responsável pelo estudo.
A eficácia do teste fica entre 80%
e 90%. Atualmente, o diagnóstico
do transtorno é feito na clínica
apenas por meio de exames psiquiátricos, com base nos sintomas. O teste da UFRJ pode ser
mais um instrumento para garantir a detecção precisa do mal.
"O exame com mistura de CO2
ganhou uma aceitação maior, em
detrimento de outros testes existentes para provocar pânico em
laboratório, porque é não-invasivo e simples. Os outros, em geral,
pressupõem a injeção de substâncias nas veias que podem ter efeitos colaterais", diz Nardi.
Os pesquisadores estão mostrando que o teste de CO2 é útil
também para medir a resposta terapêutica durante o tratamento
do transtorno. Os pacientes que
aceitaram participar do estudo
são submetidos ao exame antes e
depois de iniciar a ingestão de
medicamentos. Isso permite verificar se as drogas prescritas e suas
dosagens estão sendo adequadas
e fazendo o efeito desejado.
O exame de CO2, por enquanto,
só pode ser feito na UFRJ. Pessoas
que sejam portadoras do mal podem participar do estudo, de
acordo com alguns critérios de
aceitação, entre eles: ter entre 18 e
55 anos, não estar ingerindo de
antemão quaisquer medicamentos, não ser fumante nem portador de doenças respiratórias ou
cardiovasculares.
Como outras doenças mentais,
ainda não se conhecem, de maneira clara, as causas do transtorno do pânico. Acredita-se que haja um fator hereditário. De fato,
sobem de 3% para 25% as chances de uma pessoa apresentar o
mal quando tem familiares próximos com a doença.
Sabe-se também que há uma associação entre o transtorno do pânico e a respiração. Os pesquisadores da UFRJ estão se dedicando
a entender melhor essa relação:
"O estudo mais direcionado do
controle da ventilação [respiração" poderá fornecer subsídios
importantes para a compreensão
da gênese dos ataques de pânico",
afirma Zin.
Grécia Antiga
O transtorno do pânico não é
uma doença característica só da
modernidade. Diz a etimologia
que o nome "pânico" vem de Pã,
deus grego muito feio e brincalhão. Uma de suas brincadeiras
era dar sustos nos viajantes que
circulavam pelas estradas da Grécia. Um dos locais mais prováveis
para o deus pregar suas peças era
em frente ao seu templo, onde ficava a praça do mercado.
Para não tomar um susto, as
pessoas tentavam ao máximo evitar a ida às compras. Como a praça do mercado é chamada em grego de "ágora", a situação ficou conhecida como "agorafobia".
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