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FUTURO
Nova tecnologia, desenvolvida por empresas nos EUA, permite que cortes cirúrgicos sejam fechados por raios em vez do sistema tradicional da linha e da agulha
Costura a laser
VANESSA DE SÁ
especial para a Folha
Os cirurgiões estão perto de ganhar um novo aliado, que promete substituir, em pouco tempo, a
linha e a agulha: uma solda a laser,
capaz de selar um ferimento ou
corte cirúrgico tão facilmente
quanto uma solda de metal.
Segundo Dix Poppas, diretor do
departamento de urologia pediátrica do Hospital de Nova York,
pelo menos oito empresas nos
EUA estão diretamente envolvidas
no desenvolvimento desse tipo de
instrumento.
"Além disso, dezenas de pesquisadores já estão testando a solda
em animais. Os testes em humanos devem começar em pouco
tempo", disse ele à Folha.
Mas há quem veja com ceticismo
o novo instrumento. Os defensores da "agulha e linha" argumentam que a velha técnica é mais barata e amplamente usada pela comunidade médica.
Poppas rebate: leva-se muito
menos tempo do que os tradicionais "pontos" e a cicatrização é
imediata, por isso o risco de infecção é menor. "O laser é muito
mais fácil de manejar, mais confiável e rápido do que suturar."
Como ovo cozido
A nova tecnologia baseia-se na
desnaturação -destruição irreversível de uma proteína por fatores externos, como calor, mudanças extremas de pH ou agentes
químicos.
O exemplo mais conhecido da
desnaturação é o ovo cozido. Clara
e gema "endurecem" porque
suas proteínas desnaturam.
Quando o laser aquece as bordas
do corte, as proteínas do tecido
que o circunda se desnaturam,
"derretem". À medida que o local esfria, as proteínas vão "endurecendo", deixando uma cicatriz
que lembra a que é produzida por
uma solda convencional.
O grande problema com relação
ao novo instrumento é saber em
que momento deve-se desligar o
laser a fim de que o tecido que está
sendo manipulado não queime.
Ao mesmo tempo, se o laser for
desligado antes da hora, a cicatriz
formada pode ser frágil.
Para evitar esse problema, pesquisadores da Abiomed, em Massachusetts (EUA), desenvolveram
uma espécie de solda inteligente.
O modelo da empresa usa um
detector infravermelho, parecido
com os usados em termômetros
de ouvido, para medir a temperatura do ponto aquecido pelo laser.
O sinal do termômetro alimenta
um microprocessador que, por
sua vez, ajusta a saída da luz, mantendo a temperatura local estável.
Liderados por Millard Judy,
cientistas do Instituto de Pesquisas Baylor, em Dallas (EUA), estão
testando outro tipos de solda, baseados numa reação fotoquímica.
Segundo eles, esse tipo de instrumento leva vantagem sobre o anterior porque não há risco de o tecido superaquecer. É o que se poderia chamar de "solda fria".
Ela leva um corante amarelo
que, ativado pela luz, se une às
proteínas do tecido. Para fechar o
corte cirúrgico, basta "pintá-lo"
com o corante e "cobri-lo" com o
laser.
Aplicações
De acordo com a Abiomed, a nova tecnologia será particularmente
útil na cirurgia cardíaca -nas
ponte de safena, por exemplo- e
no trato urogenital masculino
que, por ser formado por dutos e
tecido delicados, tem mais chance
de inflamar quando suturado.
"Eu acredito que, em pouco
tempo, a solda deverá substituir a
sutura nos procedimentos pouco
invasivos, como microcirurgia, laparoscopia e alguns tipos de cirurgia cardíaca. A sutura poderá, daqui a um tempo, ser coisa do passado", conclui Poppas.
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