São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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AMAZÔNIA

Governo debate dados parciais com ONGs; área derrubada se estabiliza no patamar do equivalente a um Sergipe

Desmatamento em 2003 supera 21 mil km2

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal divulga hoje, em Brasília, o índice de desmatamento na Amazônia em 2003, que deve superar a marca anterior de 25.400 km2, podendo chegar a 30 mil km2. A estimativa foi feita ontem por representantes de entidades ligadas à Amazônia após reunião com o Ministério do Meio Ambiente, da qual também participou a ministra Marina Silva.
Para chegar à previsão, especialistas utilizaram dados de 77 imagens das áreas mais críticas de desmatamento, englobando 416 municípios. Nos nove Estados que aparecem nas imagens de pontos mais críticos, o total devastado ultrapassa 21.500 km2 no período entre agosto de 2002 e o mesmo mês do ano passado.
Um grupo de 25 municípios em três Estados -Mato Grosso, Pará e Rondônia- é responsável por 50% dessa área. Juntos, tiveram 10.560 km2 devastados, o que representa quase duas vezes a área do Distrito Federal. O campeão é São Félix do Xingu (PA), com 1.332 km2.
Mesmo com esses números, o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Ribeiro Capobianco, diz acreditar que a marca de 2003 possa ser menor que a anterior. "A expectativa é de uma situação melhor porque em vários municípios houve queda nos índices", disse ele.
Segundo Capobianco, os dados finais estavam sendo fechados ontem. Serão apresentados hoje, antes da divulgação oficial, a ministros de outras áreas envolvidos no Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal.
Os especialistas apontam como a principal causa do avanço do desmatamento a boa fase do agronegócio no Brasil, principalmente pecuária e grãos.
"Apesar de a economia no geral ter apresentado retração no ano passado, o agronegócio tem se desenvolvido. O aumento dessa parte da economia está alimentando o desmatamento. E isso é trágico", disse Paulo Adário, do Greenpeace, que participou da reunião ontem.
Para Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, a tendência de aumento do desmatamento é decorrente da política adotada para a região nos últimos anos. "Isso não é taxa de juros, que temos de esconder até a última hora [o índice de desmatamento]. Se aumentou, não é culpa de um só governo. Não é uma questão de crucificar ninguém."
Smeraldi citou um levantamento de uma consultoria, iniciado ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, apontando que a projeção é de 18 mil km2 de área devastada ao ano, mesmo que não haja expansão da agricultura e da pecuária na Amazônia.
No mês passado, o governo lançou um plano de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia que envolve 12 ministérios em atividades de fiscalização, licenciamento ambiental, instrumentos de crédito rural e planejamento para obras de infra-estrutura.


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