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ESPAÇO
Equipe supera dificuldades com sistemas da Mars Express, que deve ser uma das cinco a chegar ao planeta até 2004
Nave européia decola para Marte no dia 2
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O monopólio americano sobre
Marte está com os dias contados.
A ESA (agência espacial européia)
anunciou que sua primeira sonda
ao planeta vermelho, a Mars Express, parte no próximo dia 2.
Os europeus enfrentaram dificuldades com a nave durante as
preparações para o lançamento,
originalmente marcado para o dia
23 deste mês. Um adiamento foi
realizado para que os problemas
pudessem ser corrigidos.
A equipe de técnicos, engenheiros e cientistas teve de trabalhar
contra o relógio para aproveitar a
chamada "janela" de lançamento
-período em que é possível enviar a sonda até seu destino.
Tempo é uma variável fundamental quando o assunto é enviar
missões para Marte. Não é como
ir até a Lua. Enquanto o satélite
natural da Terra se mantém a
uma distância regular com o passar do tempo (cerca de 384 mil
quilômetros), a distância Terra-Marte varia de 80 milhões a 380
milhões de quilômetros, conforme os dois planetas avançam em
suas órbitas ao redor do Sol.
Mesmo durante a aproximação
máxima, como a sonda precisa
atravessar essa distância num trajeto diagonal, o espaço percorrido
acaba sendo muito maior -mais
de 400 milhões de quilômetros.
Oportunidades bienais
Essas janelas de lançamento,
com duração de cerca de um mês,
costumam se abrir para um vôo
até Marte a cada dois anos. Por essa razão, houve lançamentos de
sondas em 1997, 1999 e 2001 rumo
ao planeta vermelho -em todos
esses casos, sondas americanas.
Com exceção de uma série de
sondas soviéticas nos anos 1970,
nenhum outro país enviou naves
a Marte até agora.
O problema com a Mars Express foi corrigido antes que a
sonda deixasse Tolouse, na França, rumo a Baikonur, no Cazaquistão, de onde será lançada ao
espaço. Os engenheiros descobriram um defeito num dos módulos eletrônicos. "É claro que era a
caixa mais difícil de remover",
ironizou Rudolph Schmidt, o gerente do projeto na ESA.
A Mars Express parte a bordo
de um foguete Soyuz russo. É o
mesmo que impulsiona as naves
tripuladas de nome idêntico até a
órbita terrestre, adaptado para o
envio da sonda não-tripulada.
Deve chegar ao planeta vermelho
ainda neste ano, em dezembro.
A missão, com custo estimado
em cerca de US$ 200 milhões, é
dupla. A Mars Express propriamente dita ficará em órbita de
Marte, mas um módulo de aterrissagem, o Beagle-2, se desprenderá dela e irá à superfície. O nome é uma referência ao navio que
transportou o britânico Charles
Darwin nas expedições que contribuíram para sua teoria da evolução. Como se pode suspeitar, a
busca por sinais de atividade biológica no planeta será o carro-chefe da missão.
"O Beagle-2 vai se concentrar
numa vasta gama de análises químicas, minerais e orgânicas de rochas e solos, caracterização mineralógica e geológica do local de
pouso, assim como as suas condições meteorológicas", disse à Folha Agustín Chicarro, o cientista-chefe da missão. "Juntos, esses resultados todos vão contribuir para estabelecer se a vida apareceu e
evoluiu em Marte."
Cooperação global
A Mars Express não estará sozinha em sua jornada. Três dias depois de sua decolagem, parte da
Flórida (EUA) o primeiro dos
dois "rovers" (jipes) da Nasa, a
agência espacial americana, com
destino a Marte. O segundo deve
seguir viagem no final de junho, e
os dois devem chegar ao planeta
em janeiro de 2004.
Completando o tráfego de sondas marcianas na temporada
2003/2004, a nave japonesa Nozomi deve finalmente chegar ao destino no início de 2004, após uma
longa e tortuosa viagem. Ela foi
lançada em 1998, mas problemas
no meio do caminho fizeram com
que só agora ela conseguisse atingir o planeta vermelho.
O lançamento da Mars Express
e a chegada da Nozomi são um
marco na exploração marciana,
que começa a ganhar os mesmos
traços de cooperação global que
hoje existem na construção da ISS
(Estação Espacial Internacional).
Reunidos para o retorno dos astronautas Kenneth Bowersox,
Donald Pettit e Nikolai Budarin
da ISS, sábado passado, os diretores da Nasa e da Rosaviakosmos
(agência russa), Sean O'Keefe e
Yuri Koptev, iniciaram discussões sobre uma futura sonda marciana não-tripulada conjunta.
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