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São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2003

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ESPAÇO

Equipe supera dificuldades com sistemas da Mars Express, que deve ser uma das cinco a chegar ao planeta até 2004

Nave européia decola para Marte no dia 2

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O monopólio americano sobre Marte está com os dias contados. A ESA (agência espacial européia) anunciou que sua primeira sonda ao planeta vermelho, a Mars Express, parte no próximo dia 2.
Os europeus enfrentaram dificuldades com a nave durante as preparações para o lançamento, originalmente marcado para o dia 23 deste mês. Um adiamento foi realizado para que os problemas pudessem ser corrigidos.
A equipe de técnicos, engenheiros e cientistas teve de trabalhar contra o relógio para aproveitar a chamada "janela" de lançamento -período em que é possível enviar a sonda até seu destino.
Tempo é uma variável fundamental quando o assunto é enviar missões para Marte. Não é como ir até a Lua. Enquanto o satélite natural da Terra se mantém a uma distância regular com o passar do tempo (cerca de 384 mil quilômetros), a distância Terra-Marte varia de 80 milhões a 380 milhões de quilômetros, conforme os dois planetas avançam em suas órbitas ao redor do Sol.
Mesmo durante a aproximação máxima, como a sonda precisa atravessar essa distância num trajeto diagonal, o espaço percorrido acaba sendo muito maior -mais de 400 milhões de quilômetros.

Oportunidades bienais
Essas janelas de lançamento, com duração de cerca de um mês, costumam se abrir para um vôo até Marte a cada dois anos. Por essa razão, houve lançamentos de sondas em 1997, 1999 e 2001 rumo ao planeta vermelho -em todos esses casos, sondas americanas. Com exceção de uma série de sondas soviéticas nos anos 1970, nenhum outro país enviou naves a Marte até agora.
O problema com a Mars Express foi corrigido antes que a sonda deixasse Tolouse, na França, rumo a Baikonur, no Cazaquistão, de onde será lançada ao espaço. Os engenheiros descobriram um defeito num dos módulos eletrônicos. "É claro que era a caixa mais difícil de remover", ironizou Rudolph Schmidt, o gerente do projeto na ESA.
A Mars Express parte a bordo de um foguete Soyuz russo. É o mesmo que impulsiona as naves tripuladas de nome idêntico até a órbita terrestre, adaptado para o envio da sonda não-tripulada. Deve chegar ao planeta vermelho ainda neste ano, em dezembro.
A missão, com custo estimado em cerca de US$ 200 milhões, é dupla. A Mars Express propriamente dita ficará em órbita de Marte, mas um módulo de aterrissagem, o Beagle-2, se desprenderá dela e irá à superfície. O nome é uma referência ao navio que transportou o britânico Charles Darwin nas expedições que contribuíram para sua teoria da evolução. Como se pode suspeitar, a busca por sinais de atividade biológica no planeta será o carro-chefe da missão.
"O Beagle-2 vai se concentrar numa vasta gama de análises químicas, minerais e orgânicas de rochas e solos, caracterização mineralógica e geológica do local de pouso, assim como as suas condições meteorológicas", disse à Folha Agustín Chicarro, o cientista-chefe da missão. "Juntos, esses resultados todos vão contribuir para estabelecer se a vida apareceu e evoluiu em Marte."

Cooperação global
A Mars Express não estará sozinha em sua jornada. Três dias depois de sua decolagem, parte da Flórida (EUA) o primeiro dos dois "rovers" (jipes) da Nasa, a agência espacial americana, com destino a Marte. O segundo deve seguir viagem no final de junho, e os dois devem chegar ao planeta em janeiro de 2004.
Completando o tráfego de sondas marcianas na temporada 2003/2004, a nave japonesa Nozomi deve finalmente chegar ao destino no início de 2004, após uma longa e tortuosa viagem. Ela foi lançada em 1998, mas problemas no meio do caminho fizeram com que só agora ela conseguisse atingir o planeta vermelho.
O lançamento da Mars Express e a chegada da Nozomi são um marco na exploração marciana, que começa a ganhar os mesmos traços de cooperação global que hoje existem na construção da ISS (Estação Espacial Internacional).
Reunidos para o retorno dos astronautas Kenneth Bowersox, Donald Pettit e Nikolai Budarin da ISS, sábado passado, os diretores da Nasa e da Rosaviakosmos (agência russa), Sean O'Keefe e Yuri Koptev, iniciaram discussões sobre uma futura sonda marciana não-tripulada conjunta.


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