São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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Empresa esbarra na academia, diz pioneiro

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

O "pai" do único caso de sucesso de droga fitoterápica nacional se cansou de esperar o setor farmacêutico amadurecer no Brasil e resolveu agir por conta própria.
João Batista Calixto está transferindo seus laboratórios na Universidade Federal de Santa Catarina para o Parque Tecnológico Sapiens, em Florianópolis. Ali ele irá dirigir um centro de pesquisas totalmente voltado para gerar novos medicamentos.
O Centro de Referência em Farmacologia Pré-Clínica deve atuar em duas pontas.
A primeira é trabalhar sob encomenda das empresas, como foi o caso do Acheflan. A segunda consiste em achar novos alvos biológicos (proteínas que possam ser atacadas por drogas) e desenvolver um portfólio de moléculas que possam ser transformadas em drogas em parceria com a indústria.
Segundo Calixto, a culpa da letargia do setor farmacêutico no Brasil não é só da indústria. Há um problema também com a estrutura das universidades, que ainda são as principais geradoras de conhecimento na área.
Como o papel do pesquisador universitário não é colocar produtos no mercado, e sim produzir publicações científicas e teses, o segredo de patente -fundamental para a indústria é perdido.
"A indústria esbarra na tese", afirma o cientista. "Você vai a congressos e vê que tudo o que poderia estar patenteado está publicado e em domínio público." Ele diz que o novo centro não publicará seus resultados.
Algumas indústrias farmacêuticas têm tentado driblar essa dificuldade e fazer contratos especiais com pesquisadores universitários.
Em março deste ano, por exemplo, a Sanofi-Aventis, por meio da Fundação Biominas, de Belo Horizonte, abriu um edital para financiar pesquisas em oncologia, diabetes e doenças tropicais.
A ideia do programa é "terceirizar" o desenvolvimento de medicamentos, identificando drogas promissoras e financiando sua produção e seu licenciamento.
Os eventuais royalties seriam divididos entre instituição de pesquisa e empresa.

CRIATIVIDADE
Segundo Jaderson Lima, diretor médico da Sanofi, há "muita criatividade" nas universidades, mas os pesquisadores não sabem lidar com inovação e patentes.
Ele defende a parceria como uma forma de aumentar a eficiência da indústria de medicamentos -que enfrenta dificuldades para de produzir princípios ativos novos.
Calixto afirma ter um pé atrás com a iniciativa. "O problema é que são iniciativas isoladas, que não têm recursos renovados."
Ele cita uma fase anterior do programa, financiada pela Roche em 2008. "Se não é uma coisa duradoura, vai trazer poucos resultados."


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