São Paulo, sexta, 7 de agosto de 1998

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CIÊNCIA
Pesquisadora dos EUA obtém resultados que reforçam críticas ao uso da engenharia genética na agricultura
Estudo alerta para superervas daninhas

MARCELO LEITE
especial para a Folha

Os críticos do uso da engenharia genética na agricultura ganharam um reforço ontem. Uma pesquisadora da Universidade do Estado de Ohio (EUA) alertou para o risco de pés de canola geneticamente modificados darem origem a superervas daninhas.
Allison Snow pesquisou o que acontece com genes introduzidos (transgenes) na canola, para criar resistência a herbicidas, quando são "contrabandeados" para plantas silvestres. O estudo foi apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Ecologia, em Baltimore (leste dos EUA).
A criação de resistência tem sido cada vez mais pesquisada para aumentar a produtividade de espécies importantes, como soja, milho e trigo. É como acrescentar uma linha ao programa bioquímico do vegetal, mandando-o ignorar o veneno do herbicida.
A canola (Brassica napus), da qual se produz o óleo de cozinha com o menor teor de gordura saturada, foi introduzida na América por europeus. Junto veio a erva Brassica rapa, uma parente muito próxima. Entre plantas, tal proximidade facilita troca de material genético (hibridação).
A pesquisa de Snow comprovou um temor dos ambientalistas: mesmo capturando o transgene que a torna resistente aos produtos químicos, a erva daninha manteve uma saúde de ferro.
É o oposto do que previam defensores de plantas transgênicas. Para eles, os genes "contrabandeados" prejudicariam a reprodução da Brassica rapa. Snow verificou que elas produzem flores e sementes como as normais.
Snow não crê que seu estudo seja motivo para alarme, mas acha importante entender o que ocorre em culturas transgênicas para poder adiar e até evitar possíveis consequências negativas.
Elibio Rech, 42, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas em Recursos Genéticos e Biotecnologia, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Cenargen-Embrapa), diz que o estudo vale só para as plantas do gênero Brassica.
Não há notícia de que o mesmo ocorra com a soja, por exemplo, de acordo com o pesquisador do Cenargen.
Mas Rech prevê problemas para uma eventual introdução no Brasil de arroz transgênico, cujos genes passariam para o arroz vermelho, que se tornaria resistente.
Apesar disso, ele defende a autorização para o uso comercial no país de variedades transgênicas. Hoje, só são permitidos testes de campo restritos.
Durante pelo menos cinco anos, diz, a produtividade aumentaria. Quando a resistência se espalhasse pela variedade daninha, uma nova linhagem poderia ser criada, com outro gene. E assim por diante.



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