São Paulo, quarta-feira, 07 de outubro de 2009

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Fibras ópticas e foto digital recebem o Nobel de Física

Prêmio vai para três cientistas de laboratórios do setor de telecomunicações

Willard Boyle e George Smith criaram o CCD, o "filme" eletrônico; Charles Kao descobriu como enviar dados por cabo usando luz


AP/Alcatel-Lucent, Laboratórios Bell
Boyle (à esq.) e Smith nos Laboratórios Bell nos anos 1970

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Prêmio Nobel de Física de 2009 foi anunciado num comunicado que se referiu aos três ganhadores como "mestres da luz". Seguindo uma tendência dos organizadores de fragmentar um único prêmio em descobertas diferentes, a honraria concedida ontem foi para Charles Kao, pioneiro da transmissão de dados por fibra óptica, e para a dupla Willard Boyle e George Smith, criadores do CCD, o sensor que capta imagens para câmeras digitais.
O sino-britânico Kao, 75, descobriu como fazer um cabo de fibra óptica (um tipo de vidro flexível) que permite o fluxo de luz para transmitir dados a grandes distâncias. Com isso, inaugurou uma revolução na área de telecomunicações.
Na época de sua grande descoberta, em 1966, Kao trabalhava para a Standard, empresa britânica de telecomunicações. O americano Smith, 79, e o canadense Boyle, 85, conceberam sua invenção em 1969 nos Bell Labs (Laboratórios Bell), de Nova Jersey (EUA), que eram ligados à empresa AT&T, do mesmo setor.
Boyle foi o único a falar publicamente ontem na hora do anúncio do prêmio na Suécia, por teleconferência. "Estou com essa sensação adorável hoje por todo meu corpo, tipo "Uau, isso é mesmo empolgante, mas será que é real?" ".
Segundo o cientista, a última vez que sua pesquisa o tinha emocionado tanto fora quando as primeiras sondas a chegar a Marte fizeram imagens usando um CCD, tecnologia cujo uso só cresceu desde então. Kao, mais tarde, disse que ficou surpreso com o prêmio. "Isso foi muito, muito inesperado", afirmou.

Tempos de glória
O prêmio de 2009 é uma espécie de dividendo tardio da época em que essas empresas de telecomunicações investiam dinheiro mais pesado em pesquisas básicas -que geram inovação mais radical, mas têm perspectiva de aplicação só no longo prazo. Contando Boyle e Smith, a história dos Bell Labs exibe agora 13 cientistas ganhadores do Nobel de física.
"Eles criavam ali um ambiente para atrair bons cientistas, onde pesquisadores tinham muita liberdade, e a única restrição para o trabalho era a capacidade intelectual de cada um", conta o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, que já trabalhou nos Bell Labs. "Até 1985, a AT&T tinha o monopólio das telecomunicações nos EUA, com taxa de lucro muito alta. E, além disso, era obrigada pelo sistema de regulação americano a investir em atividades que geravam mais benefícios públicos que privados."
Com o enfraquecimento da AT&T, a força de inovação dos Bell Labs se deslocou para outras empresas, sobretudo de informática, como a Microsoft.
Brito, que tem uma de suas linhas de pesquisa hoje no campo de fibras ópticas, na Unicamp, diz, contudo, que ainda hoje as telecomunicações dependem de pesquisa em física de materiais para inovar. Em fibras ópticas, o desafio é mais no sentido de lidar com grandes intensidades de luz, aumentando a carga de informação.

Do laboratório para casa
A parte do prêmio de física concedida ao CCD tem hoje mais apelo popular do que a das fibras ópticas, já que na última década a tecnologia barateou e foi parar em câmeras fotográficas amadoras e até em telefones celulares. Antes de revolucionar o cotidiano, porém, o CCD revolucionou a produção de imagens para astronomia, contra João Steiner, professor da Universidade de São Paulo.
"Eu fui o primeiro a importar uma CCD no Brasil em 1986, para o Laboratório Nacional de Astrofísica", conta o cientista. O equipamento de US$ 60 mil (que era caro, em parte, porque suas pesquisas precisavam de resfriamento especial) tinha uma resolução de cerca de 500 mil pixels (pontos de imagem). "Hoje já há um monte de câmeras domésticas que possuem 5 milhões de pixels", diz.

Com Reuters



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