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Crise facilita cortes de gás do efeito estufa
É como se mundo não tivesse emitido carbono em 2007 e 2008; eficiência pode trazer até 65% de abate
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BANCOC
As emissões globais de gás
carbônico deverão cair 3% em
2009, graças à crise econômica.
Isso abre uma "janela de oportunidade única" de estabilizar a
concentração global de gases-estufa no nível considerado seguro pelos cientistas, afirmou
ontem a Agência Internacional
de Energia (AIE).
O presidente da AIE, Nobuo
Tanaka, divulgou ontem, durante a reunião das Nações
Unidas sobre mudanças climáticas em Bancoc, Tailândia, resultados do "World Energy Outlook", relatório anual da agência sobre produção e consumo
de energia no mundo.
É a primeira vez que o órgão
antecipa uma parte do relatório. A medida tem o objetivo
declaradamente político de
subsidiar a negociação do acordo do clima de Copenhague, a
ser fechado em dezembro.
Surpresa
Segundo Fatih Birol, economista-chefe da AIE e coordenador do relatório, o impacto da
crise global sobre as emissões
surpreendeu até mesmo a
agência. Mesmo se nenhuma
política de controle de CO2 fosse adotada no mundo, as emissões em 2020 seriam 5% menores do que o estimado pela
AIE no ano passado.
"Isso se contrapõe ao crescimento de 3% ao ano das emissões", disse Birol. "É como se
em dois anos, 2007 e 2008, nós
não tivéssemos emitido carbono nenhum, o que é uma oportunidade muito boa."
Segundo a AIE, o mundo pode agora tentar estabilizar a
concentração de gás carbônico
na atmosfera em 450 ppm
(partes por milhão). Segundo
os cientistas do IPCC, esse é o
nível de estabilização necessário para dar ao mundo uma
chance de 50% de manter o
aquecimento global abaixo de 2
graus Celsius, temperatura
além da qual a mudança climática sairia do controle.
Alcançar as 450 ppm, no entanto, está longe de ser uma tarefa simples -ou barata. Segundo Tanaka e Birol, será necessário fazer uma "revolução"
nos sistemas de transporte e
energia, dobrando a participação de energias renováveis na
matriz (hoje de 18%) até 2030 e
aumentando a participação da
energia nuclear. "Isso equivale
a inaugurar 17 mil turbinas eólicas e 18 usinas nucleares por
ano", disse Tanaka.
Também será necessário um
aumento brutal na frota de carros elétricos e híbridos: até
2030, os carros convencionais
terão de ser reduzidos a 40% da
frota global (hoje são 95%).
O custo dessa transição é estimado em US$ 10 trilhões entre o ano que vem e 2030. Essa
é a má notícia. A boa, diz Birol,
é que só as medidas de eficiência energética podem prover
até 65% do abate. Cada ano de
inação, porém, adverte Tanaka,
aumentará o custo de estabilização em US$ 500 bilhões.
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