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ONU pede "virada" na conferência do clima
Encontro começa hoje em Copenhague recebendo mais que o dobro do número de participantes previsto inicialmente
Secretário da convenção do clima pede metas a países ricos, transparência a países pobres e definição sobre pacotes de ajuda financeira
Pawel Kopczynski/Reuters
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O trânsito no centro de Copenhague, onde um grande globo terrestre foi instalado para marcar a abertura da conferência do clima
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE
Ainda não se sabe se a conferência do clima que começa hoje em Copenhague com a ambição de salvar o planeta será a
"virada" histórica que o secretário-executivo da Convenção
do Clima da ONU, Yvo de Boer,
reivindica dos líderes mundiais. Mas um sucesso o encontro que vai até o próximo dia 18
já pode contar: o de público.
Segundo os organizadores da
chamada COP-15, entre membros das delegações nacionais,
de organizações não-governamentais, de entidades internacionais e da mídia, 34 mil pessoas pediram credenciais para
os eventos oficiais. No Bella
Center, sede da conferência,
cabem 15 mil. Tal público não
era esperado, e os problemas já
pipocaram (leia texto abaixo).
Não foi à toa que Michael Cutajar, do grupo de trabalho de
Ações Cooperativas de Longo
Prazo, chamou a COP-15 de
"maior show da Terra".
Ressaltar a atenção sobre o
evento foi o meio de exortar os
96 chefes de Estado que anunciaram sua presença na próxima semana -Luiz Inácio Lula
da Silva entre eles- a fecharem
um compromisso, ainda que
este, como anunciado pelos líderes, não tenha força legal.
A mensagem parece ter tido
eco. Barack Obama decidiu
postergar sua ida, antes planejada como uma escala de viagem rumo a Oslo na quinta, para se reunir com os demais chefes de Estado só na semana que
vem. Ontem o indiano Manmohan Singh confirmou sua ida.
"As pessoas estão aqui para
negociar", disse De Boer em entrevista coletiva ontem, na qual
celebrou a decisão de Obama
("É importante ele ouvir as
preocupações dos pequenos
países insulares e dos países em
desenvolvimento") e cobrou-lhe ação mais efetiva ("Espero
que venha com uma meta ambiciosa para os EUA e um forte
compromisso financeiro").
A meta de redução de emissão de gases-estufa dos EUA
para 2020, 17% sobre 2005, representa redução em torno de
apenas 5% sobre 1990, o ano-referência. E é um dos impasses no legislativo americano.
Mas o holandês De Boer repetiu seu novo mantra de que a
COP-15 deve se ater a objetivos
"simples" e evitou avaliar metas citadas ou aventadas por
países ricos e grandes emergentes (o Brasil propõe corte de
até 39% no crescimento de
emissões previsto até 2020).
Papai Noel
Mas De Boer não foi de todo
modesto. "Quero uma lista de
metas ambiciosas dos países ricos; claridade sobre o que os
países em desenvolvimento
vão fazer para limitar o crescimento de suas emissões e uma
lista de promessas financeiras
que tornem possível, para um
escopo mais amplo de nações
em desenvolvimento, reverter
a direção de seu crescimento
econômico e se adaptar ao impacto inevitável da mudança
climática", declamou. "É isso
que eu pedi ao Papai Noel."
Por ora, para ter os três itens
da lista seria preciso um milagre natalino. As metas dos ricos
variam entre inócuas (em relação ao que já tem sido feito) e
insuficientes; os grandes países
em desenvolvimento carecem
de planos de ação consistentes
-e nos casos da China e da Índia, de metas que realmente
cortem as emissões-; e as promessa de ajuda aos países menores são vagas, quando não
maquiadas.
Uma discussão de dois dias
sobre uma estratégia de negociação comum para a China e os
países em desenvolvimento do
G-77 patinava ontem sem consenso, segundo delegados que
deixavam a sala entediados.
Para piorar, De Boer ainda é
confrontado com o "climagate"
-os e-mails de climatologistas
recém-vazados nos quais céticos do aquecimento global
veem prova de uma conspiração dos cientistas para atribuir
causa humana ao fenômeno.
O holandês disse que o episódio será tratado no evento, mas
que a conclusão sobre a culpa
humana não está em discussão.
Ela está "em quatro relatórios
do painel do clima da ONU, que
indicam tendência constante".
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