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NEUROCIÊNCIA
Mariposa serve de modelo para estudar transmissores de infecções
Faro de inseto dá pista sobre doenças
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
O estudo de uma mariposa gigante está dando dicas importantes aos cientistas sobre como evitar a transmissão de doenças por
insetos sugadores de sangue. A
mariposa conhecida pelo nome
científico Manduca sexta é o modelo ideal para entender como insetos chegam a suas vítimas guiados pelo cheiro.
"Se você quiser ter um impacto
na área de saúde humana, estude
o nariz de mosquitos", resume o
pesquisador norte-americano
John Hildebrand, da Universidade do Arizona.
Hildebrand fez uma palestra sobre o tema durante o 1º Simpósio
de Neurociências de Natal, que
terminou ontem. O encontro
marca o início da instalação do
Instituto Internacional de Neurociência de Natal, uma iniciativa do
neurocientista brasileiro Miguel
Nicolelis, que trabalha na Universidade Duke, da Carolina do Norte (Estados Unidos).
Hildebrand fez a única apresentação sobre um tema bem específico: o sistema nervoso de insetos,
notadamente a maneira como
percebem odores no ambiente.
Essa percepção é fundamental para os insetos se reproduzirem e se
alimentarem -seja de sangue,
como no caso dos mosquitos que
transmitem doenças como dengue ou malária, seja néctar de flores, como no caso da mariposa
Manduca sexta.
Entender como os insetos utilizam os odores dispersos pelo ambiente também pode ter impacto
na produção de alimentos. "Entre
30% e 35% das plantações de alimentos são destruídas por pragas", diz Hildebrand.
Mariposas colocam seus ovos
em plantas selecionadas, como o
tomateiro. Para distinguir uma
planta da outra, as mariposas
usam apenas dicas olfativas. Do
mesmo modo, o mosquito vetor
de doença tropical também usa o
odor para picar o homem, e não
outro animal, explica o cientista.
Em uma apresentação anterior,
três destacados pesquisadores
brasileiros na área de medicina
tropical -Hildebrando Pereira
da Silva e o casal Ruth e Victor
Nussenzveig- haviam sugerido
maior investimento nessa área,
pois doenças parasitárias afetam
milhões de brasileiros.
Havia sido sugerida até a criação de um instituto de medicina
tropical vinculado ao novo instituto de neurociência. Hildebrand
declarou que o estudo do sistema
nervoso e do comportamento de
insetos poderia ser justamente a
ponte ligando os dois institutos.
A mariposa Manduca sexta, do
tamanho de um pássaro pequeno,
é fácil de estudar e serve como
modelo para estudos com mosquitos ou outros vetores de doença, assim como camundongos ou
ratos servem para estudar o ser
humano, diz o pesquisador da
Universidade do Arizona.
Hildebrand mostrou como diversos odores estimulam áreas
determinadas do sistema nervoso
da mariposa. Machos e fêmeas
têm estruturas distintas para a
percepção de feromônios, substâncias ligadas à atração sexual.
O "perfume" que a fêmea solta
no ar para atrair o macho tem
dois componentes principais, cada um analisado por um pedaço
diverso da estrutura olfativa. Utilizando microssondas de silício,
Hildebrand e colegas conseguem
gravar o "disparo" das células
nervosas (neurônios).
A microssonda é como um garfo de três pontas, cada uma gravando em quatro pontos de um
glomérulo, a estrutura olfativa. O
registro dos pulsos elétricos
-são dois por segundo- permite construir um padrão de atividade dos neurônios, que varia para cada tipo de cheiro.
Plantas, insetos e outros animais vivem uma guerra química
constante para se alimentar, reproduzir e deixar descendentes
viáveis. O entendimento desses
mecanismos naturais permite
achar novas estratégias para combater tanto a perda de culturas
agrícolas como a infecção pelos
insetos sugadores de sangue.
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