São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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Rede internacional de proteção à biodiversidade tem vários "furos"

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A rede mundial de proteção à biodiversidade está furada. Ela deixa de fora em torno de 300 espécies de vertebrados fortemente ameaçadas de extinção, além de outras 237 em perigo e outras 237 vulneráveis. Essas "espécies-lacuna" incluem aves, mamíferos, anfíbios e tartarugas.
Esses números surgem de um levantamento -que teve a colaboração de centenas de cientistas- de informações sobre a distribuição em todo o planeta de 11.633 espécies animais. O trabalho sai hoje na revista "Nature", com autoria de 21 pesquisadores.
"Nós sobrepusemos os mapas de distribuição de espécies de mais de 11 mil espécies e os mapas das áreas protegidas, em sistemas de informação geográfica, e vimos quais ficaram de fora, quais caíram da peneira", disse à Folha a bióloga portuguesa Ana Rodrigues, 30, coordenadora do trabalho e pesquisadora associada do Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade da ONG Conservação Internacional (CI).
Essas espécies todas sem proteção ambiental mostram que a estratégia mundial de preservação da biodiversidade tem de ser reformulada. Em 1992, no Congresso Mundial de Parques, ficou estabelecido que o ideal seria ter 10% da área terrestre do planeta protegida em reservas.
Apesar de hoje esse percentual ter sido até superado, chegando perto de 12%, ficaram de fora muitas espécies "endêmicas" -nativas de apenas uma região.
"No Brasil, 11% das espécies que são lacunas são endêmicas", diz Gustavo Fonseca, 46, vice-presidente executivo de Ciência na CI e professor de zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), co-autor do estudo.
Para ele, a conservação deve privilegiar os lugares com grandes concentrações de espécies ameaçadas e endêmicas. Como elas só existem ali, a perda será irreparável se forem extintas.
O Brasil é um país importante para a conservação da biodiversidade mundial, pois tem quantidade muito grande de espécies restritas ao território do país. "A nossa responsabilidade é planetária", diz Fonseca. "Sobretudo a mata atlântica tem essas espécies endêmicas", diz Ana Rodrigues.
Os pesquisadores dividiram o mundo em quadrículas para sobrepor a distribuição dos animais e a de unidades de conservação.


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