São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Megaobservatório terrestre deverá ser parceiro de espacial

Primeiro telescópio com mais de 30 metros de diâmetro começa a sair do papel; Havaí e Chile disputam projeto

Novo instrumento poderá fazer análises que vão além da capacidade do James Webb; cientistas articulam colaborações para o futuro

Observatório TMT/Divulgação
Ilustração mostra como deverá ser o TMT dentro de sua cúpula; locação ainda está indefinida


DO ENVIADO AO RIO

O maior telescópio projetado para operar na Terra até agora, o TMT (Telescópio de Trinta Metros, sigla em inglês), está a meio caminho de sair do papel, mas vai sair, diz o grupo que toca a empreitada. Com custo de US$ 600 milhões (mais US$ 150 milhões "para cobrir incertezas"), físicos esperam começar a construi-lo em 2010.
"Temos US$ 300 milhões garantidos, mais US$ 300 milhões de países que não puderam se comprometer até agora, mas têm a intenção", disse à Folha Chuck Steidel, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), um dos chefes do comitê científico do TMT. Além de juntar mais dinheiro será preciso resolver a disputa entre Havaí e Chile, os locais que ainda concorrem para abrigar o megaobservatório.
Em relação a outros projetos, porém, o clima é de parceria. Segundo Steidel, o TMT vai funcionar de forma a complementar descobertas feitas pelo Telescópio Espacial James Webb, e vice-versa.
"O Webb é projetado para ver as galáxias mais jovens do Universo e, apesar de ter sensibilidade muito melhor para descobri-las em distâncias extremamente longas, há uma grande faixa de distância para a qual o TMT será melhor em espectroscopia [separar feixes de luz nas diferentes freqüências que os compõem]", diz Steidel. "É isso que permite ver alguns detalhes sobre uma galáxia, como sua massa, sua taxa de formação de estrelas e sua química."
Um telescópio de 30 metros de diâmetro no chão, além disso, pode ver muita coisa que um telescópio de 6 metros não pode ver no espaço. "Só que o Webb vai trabalhar em comprimentos de onda mais longos [médio infravermelho], que não podemos ver bem desde o chão porque o vapor de água na atmosfera os bloqueia", diz.
Mesmo o TMT sendo semelhante a outro projeto -o GMT, um telescópio de 25 metros que funcionará no Chile-, não haverá risco de um "roubar" o trabalho do outro, afirma. "Há um bocado de ciência para ser feita pelos dois."

Cumprimentos e ondas
O clima de camaradagem entre representantes de diferentes projetos de observatórios era bastante evidente na semana retrasada em um encontro que reuniu vários deles no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro. Jonathan Gardner, do James Webb, e Steidel trocaram muitas palavras com Fred Lo, do Alma, uma rede gigante de radares que vai estudar radiação astronômica em comprimento de ondas de rádio, mais longas que as ondas da luz.
"A astrofísica hoje é muito mais complicada e trabalha em muito mais comprimentos de onda", diz Steidel. "Não é possível ter uma boa idéia do todo usando só um instrumento."
Nesse ambiente, diz o astrofísico, mesmo quem não tem muito dinheiro pode entrar na festa. "Há uma possibilidade de o Brasil participar do TMT, da mesma maneira que já participa do Observatório Gemini [com telescópios no Havaí e no Chile]", afirma Steidel. "O brasileiros têm direito a uma fração pequena de tempo lá, mas que lhes serve bem, porque são uma comunidade relativamente pequena de astrônomos."
Para o cientista Luiz Nicolaci da Costa, que organizou o encontro no Observatório Nacional, porém, os astrônomops brasileiros ainda precisam acordar para essa realidade. "Nós não podemos competir diretamente", diz. "Temos que identificar áreas em que possamos colaborar." (RAFAEL GARCIA)


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