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Megaobservatório terrestre deverá ser parceiro de espacial
Primeiro telescópio com mais de 30 metros de diâmetro começa a sair do papel; Havaí e Chile disputam projeto
Novo instrumento poderá fazer análises que vão além da capacidade do James Webb; cientistas articulam colaborações para o futuro
Observatório TMT/Divulgação
| Ilustração mostra como deverá ser o TMT dentro de sua cúpula; locação ainda está indefinida |
DO ENVIADO AO RIO
O maior telescópio projetado
para operar na Terra até agora,
o TMT (Telescópio de Trinta
Metros, sigla em inglês), está a
meio caminho de sair do papel,
mas vai sair, diz o grupo que toca a empreitada. Com custo de
US$ 600 milhões (mais US$
150 milhões "para cobrir incertezas"), físicos esperam começar a construi-lo em 2010.
"Temos US$ 300 milhões garantidos, mais US$ 300 milhões de países que não puderam se comprometer até agora, mas têm a intenção", disse à
Folha Chuck Steidel, do Caltech (Instituto de Tecnologia
da Califórnia), um dos chefes
do comitê científico do TMT.
Além de juntar mais dinheiro
será preciso resolver a disputa
entre Havaí e Chile, os locais
que ainda concorrem para abrigar o megaobservatório.
Em relação a outros projetos,
porém, o clima é de parceria.
Segundo Steidel, o TMT vai
funcionar de forma a complementar descobertas feitas pelo
Telescópio Espacial James
Webb, e vice-versa.
"O Webb é projetado para ver
as galáxias mais jovens do Universo e, apesar de ter sensibilidade muito melhor para descobri-las em distâncias extremamente longas, há uma grande
faixa de distância para a qual o
TMT será melhor em espectroscopia [separar feixes de luz
nas diferentes freqüências que
os compõem]", diz Steidel. "É
isso que permite ver alguns detalhes sobre uma galáxia, como
sua massa, sua taxa de formação de estrelas e sua química."
Um telescópio de 30 metros
de diâmetro no chão, além disso, pode ver muita coisa que um
telescópio de 6 metros não pode ver no espaço. "Só que o
Webb vai trabalhar em comprimentos de onda mais longos
[médio infravermelho], que
não podemos ver bem desde o
chão porque o vapor de água na
atmosfera os bloqueia", diz.
Mesmo o TMT sendo semelhante a outro projeto -o
GMT, um telescópio de 25 metros que funcionará no Chile-,
não haverá risco de um "roubar" o trabalho do outro, afirma. "Há um bocado de ciência
para ser feita pelos dois."
Cumprimentos e ondas
O clima de camaradagem entre representantes de diferentes projetos de observatórios
era bastante evidente na semana retrasada em um encontro
que reuniu vários deles no Observatório Nacional, no Rio de
Janeiro. Jonathan Gardner, do
James Webb, e Steidel trocaram muitas palavras com Fred
Lo, do Alma, uma rede gigante
de radares que vai estudar radiação astronômica em comprimento de ondas de rádio,
mais longas que as ondas da luz.
"A astrofísica hoje é muito
mais complicada e trabalha em
muito mais comprimentos de
onda", diz Steidel. "Não é possível ter uma boa idéia do todo
usando só um instrumento."
Nesse ambiente, diz o astrofísico, mesmo quem não tem
muito dinheiro pode entrar na
festa. "Há uma possibilidade de
o Brasil participar do TMT, da
mesma maneira que já participa do Observatório Gemini
[com telescópios no Havaí e no
Chile]", afirma Steidel. "O brasileiros têm direito a uma fração pequena de tempo lá, mas
que lhes serve bem, porque são
uma comunidade relativamente pequena de astrônomos."
Para o cientista Luiz Nicolaci
da Costa, que organizou o encontro no Observatório Nacional, porém, os astrônomops
brasileiros ainda precisam
acordar para essa realidade.
"Nós não podemos competir
diretamente", diz. "Temos que
identificar áreas em que possamos colaborar."
(RAFAEL GARCIA)
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