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MEDICINA
Excesso de substância produzida pelo tumor ajuda a detectar doença e sua gravidade com alto grau de segurança
Teste de urina identifica câncer na bexiga
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma pesquisa realizada na Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) criou uma forma simples e
não-invasiva de identificar o câncer na bexiga. A técnica usa o ácido hialurônico, uma substância
produzida pelo tumor e carregada
pela urina, para apontar a existência do câncer e a provável gravidade da doença.
Além de substituir com grau similar de precisão o incômodo de
endoscopia e biópsia, no qual um
aparelho precisa ser inserido no
canal urinário do paciente e se retira uma amostra de tecido, a técnica também é bastante segura:
quando o resultado do teste é negativo, há uma probabilidade de
96% de que não haja a doença.
O médico Luiz Eduardo Café,
34, que desenvolveu o teste numa
tese de doutorado defendida recentemente na Unifesp, explica
que o ácido hialurônico é um velho conhecido da ciência, nem
sempre associado ao câncer. "Ele
está presente normalmente no organismo, integrando a matriz extracelular [o espaço que existe entre as células]", afirma.
O problema é quando a substância se manifesta em excesso: isso indica a multiplicação descontrolada e desordenada das células
que é a marca registrada do câncer. Por conta dessa bagunça fisiológica, a própria matriz extra-celular aumenta, o mesmo ocorrendo com a quantidade do ácido.
"Isso já permitia que ele fosse
usado para detectar a presença do
câncer, mas apenas quando eram
retiradas amostras do tecido",
conta Café. Mas, no caso específico do câncer de bexiga, a coisa poderia ser bem mais simples.
"O tecido que eventualmente
poderia conter o tumor é lavado
pela urina", explica Café. Passando pelas células tumorais, o líquido arrasta consigo o ácido hialurônico em excesso, que é comodamente recolhido numa simples
ida ao banheiro do paciente.
Grupo de risco
Foi com base nessa percepção
que o trabalho de Café começou,
em 1998. Foram selecionados 52
pacientes do sexo masculino, com
mais de 40 anos de idade e com
traços de sangue na urina -um
possível grupo de risco para esse
tipo de câncer.
Embora não tenham conseguido escapar do doloroso exame endoscópico, esses pacientes (28 dos
quais acabaram mesmo tendo
câncer) deram aos médicos a correlação entre o nível do ácido hialurônico e a presença da doença,
atestado pelo exame tradicional
do tecido. Se a substância aparecia em quantidade inferior a cinco
nanogramas (cada nanograma
equivale a um bilionésimo de grama) por mililitro de urina, era
quase certo que não havia câncer.
Cerca de 70% das amostras em
que o valor era superior a esse indicavam a presença do tumor.
Com valores muito alterados
(mais de 30 nanogramas), o tumor não só estava presente como
era muito grave, tendo atingido o
músculo da bexiga.
"Isso é uma vantagem não só
pelo valor prognóstico do método, mas também para verificar a
progressão da doença, porque o
câncer de bexiga reaparece em até
75% dos casos", afirma Café. Dessa forma, o teste urinário poderia
indicar não só o reaparecimento
da doença, mas também se ela
voltou com gravidade redobrada.
De acordo com Café, os resultados devem ser confirmados e ampliados num grupo de mais 300
pacientes. Não há estatísticas seguras sobre o câncer da bexiga no
Brasil. Contudo, nos Estados Unidos, ele é o quarto câncer mais comum entre os homens.
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