São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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EXPLORAÇÃO

Zheng He dominou o Índico a partir de 1405

China prepara festa dos 600 anos das viagens do "Colombo" asiático

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

A China anunciou que fará no próximo ano uma megacelebração dos 600 anos da primeira viagem de Zheng He, navegador que realizou as maiores expedições marítimas da história e, segundo algumas teorias, esteve na América antes de Cristóvão Colombo.
Ainda pouco conhecido no Ocidente, Zheng realizou suas viagens em um período de 28 anos, entre 1405 e 1433. No próximo domingo se completam 599 anos de sua expedição inaugural, que traçou pela primeira vez a rota entre a Ásia e a costa leste da África, através do oceano Índico.
O tamanho das esquadras lideradas pelo navegador chinês -também chamado de Cheng Ho- não tem paralelo na história. Sua primeira expedição tinha 280 navios e 27.800 homens. Oitenta e sete anos depois, Colombo descobriu a América do Norte com três navios e menos de 300 homens. As embarcações chinesas tinham 120 metros e eram cinco vezes maiores que as de Colombo, de 24 metros.
Zheng He realizou sete expedições até morrer, em 1433. A maioria tinha proporções semelhantes à primeira. Em suas viagens, ele visitou 37 países, alcançando o Golfo Pérsico e a costa do Quênia. Na África, presenteou os governantes locais com seda e porcelanas. Trouxe de volta girafas.
Em 2002, o integrante da Marinha britânica Gavin Menzies lançou o livro "1421: The Year China Discovered America", no qual defende que Zheng He esteve na América antes de Colombo. A tese vem ganhando adeptos, mas está longe de ser consenso.
O próprio governo chinês é cauteloso. Yang Xiong, um representante do Ministério das Comunicações que deu entrevista ontem sobre as celebrações do próximo ano, afirmou que a passagem ou não de Zheng He pela América é uma questão acadêmica que ainda precisa ser muito discutida.

Recado diplomático
O governo chinês espera que as festividades do ano que vem ajudem a aplacar temores ocidentais sobre as possíveis ambições militares do país, que está cada vez mais próspero, lembrando a "diplomacia pacífica" de Zheng.
"Em vez de ocupar um só território, construir um forte e procurar um tesouro, Zheng He tratou outros países com amizade", disse Xu Zuyuan, do Ministério das Comunicações. "Achamos que o legado das sete viagens de Zheng He para o Oeste é que um crescimento pacífico é o resultado inevitável da história da China."
Muçulmano, de família pobre, Zheng He foi capturado pelo Exército chinês e castrado quando criança. Depois disso, ele se dedicou ao estudo de línguas e de filosofia, até começar a trabalhar na corte da dinastia Ming. Zheng começou suas expedições aos 32 anos de idade e só parou de navegar quando morreu, aos 60.
Depois que o último navio de sua esquadra voltou à China, o governo começou a desmontá-la. Líderes cada vez mais xenofóbicos suspenderam viagens posteriores e fecharam o país, banindo o comércio externo. Alguns historiadores culpam essa hostilidade pelo declínio do império chinês.


Com Associated Press


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