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BIOQUÍMICA
Fórmulas e doses diferentes do produto fitoterápico podem ter efeitos opostos e até fazer mal, afirma pesquisa
Raiz de ginseng tem dupla personalidade
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma equipe internacional de
pesquisadores descobriu que o
ginseng pode apresentar propriedades terapêuticas opostas de
acordo com a composição do extrato, inclusive com possíveis efeitos negativos à saúde humana. O
estudo, intitulado "O Yin e o Yang
no Ginseng", foi publicado ontem
no periódico "Circulation" (www.circulationaha.org), da Associação Americana do Coração.
Os cientistas trabalharam com
amostras recolhidas nos mercados norte-americano e europeu
de quatro tipos de ginseng: o chinês e o coreano (Panax ginseng),
o americano (P. quinquefolium) e
o sanqi (P. notoginseng). O nome
científico do gênero, Panax, vem
do grego "pan", que significa tudo, e "akos", cura.
Os princípios ativos da planta
são conhecidos como ginsenosídeos. Entre eles, a equipe descobriu duas moléculas que ocorrem
em abundância: o panaxtriol Rg1
e o panaxidiol Rb1.
Acontece que esses compostos
possuem propriedades terapêuticas opostas. O Rg1 estimula a angiogênese -a formação de novos
vasos sangüíneos. Em um organismo adulto, o fenômeno ocorre
apenas em certas condições, como durante a cicatrização.
"O Rg1 poderia servir como base para a síntese de drogas que
promovessem a cicatrização, processo deficiente em diabéticos",
disse Shiladitya Sengupta, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, co-autor do estudo.
Caso o outro composto, o Rb1,
seja o "dono do pedaço" na fórmula, acontece o contrário: a angiogênese é inibida. O diabético
do exemplo acima que tomasse
uma fórmula à base do ginseng
"errado" teria ainda mais problemas de cicatrização.
Mesmo assim, Sengupta vê a
dupla personalidade da raiz como
algo vantajoso. Ele lembra que a
angiogênese anormal e excessiva
é um elemento fundamental para
o desenvolvimento de tumores,
uma vez que as células cancerosas
são alimentadas por vasos novos.
"Moléculas similares ao Rb1 ajudariam na prevenção química do
câncer", explica o pesquisador.
Padronização
Os cientistas dizem que mais
testes são necessários para que o
uso terapêutico do Rb1 e do Rg1
seja compreendido, assim como a
formulação de uma dosagem correta -por enquanto, ninguém
sabe nem que molécula predomina em que espécie da planta. Eles
também pedem normas mais rígidas sobre sua comercialização.
"É difícil determinar com exatidão qual efeito será ativado a partir de qual dosagem, pois a composição dos ginsenosídeos difere
de amostra para amostra", diz
Sengupta. "As pessoas precisam
saber a composição exata do ginseng antes do consumo."
O ginseng é um fitoterápico popular nos Estados Unidos, onde
movimenta um mercado de até
US$ 300 milhões por ano.
No Brasil, sua venda é regulamentada desde 2000. A bula de
uma marca nacional recomenda
o consumo do extrato para elevar
a "atividade celular, o que se evidencia pelo aumento acentuado
das capacidades mental e física".
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