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BIOMEDICINA
Segundo cientista da USP, país não domina clonagem terapêutica e veto do Senado não atrapalha pesquisa
Embrião congelado basta, diz geneticista
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora não autorize o uso de
técnicas de clonagem de embriões
para a obtenção de células-tronco, o projeto da Lei de Biossegurança aprovado anteontem no Senado não deve atrapalhar os cientistas brasileiros num primeiro
momento. É o que diz Mayana
Zatz, geneticista da USP que participou do processo de redação do
texto final junto aos legisladores.
"Essa técnica, que envolve a
transferência de núcleo, é muito
complexa. Hoje, não há nenhum
grupo no Brasil que possa dizer,
no caso de ter autorização para ir
em frente, "eu estou pronto'", afirma. "No caso das linhagens obtidas a partir de embriões congelados, nós podemos começar já."
Por isso, Zatz se diz satisfeita
com o texto, que agora depende
da aprovação da Câmara e da sanção presidencial para virar lei. Na
redação final, fica autorizado o
uso em pesquisa de embriões
congelados em clínicas de fertilidade que estejam lá há pelo menos três anos, se os pais concordarem. Há cerca de 30 mil embriões
nessa situação no país, que seriam
descartados de outra forma.
A idéia dos pesquisadores é extrair deles células-tronco, que têm
potencial para virar qualquer tipo
de célula, de neurônios a músculo
cardíaco. A meta é, em longo prazo, criar tratamentos para doenças hoje incuráveis, como mal de
Parkinson e diabetes.
Com os embriões congelados, já
será possível dar andamento à
pesquisa, mas alguns cientistas
defendem que aliar esses estudos
às técnicas de clonagem é fundamental, pois permite a criação de
tecidos com as mesmas características genéticas de um determinado indivíduo (o que evitaria rejeição, no caso de um transplante)
e também permite o estudo de
certas doenças genéticas em culturas de células em laboratório.
Os cientistas chamam isso de
clonagem terapêutica, procedimento que envolve a criação de
um embrião especialmente para
pesquisa e que a nova Lei de Biossegurança não permite. É importante não confundi-lo com clonagem reprodutiva -a criação de
uma pessoa a partir do DNA de
outra-, que tem oposição uníssona de cientistas e religiosos.
Nem todos na comunidade
científica estão 100% satisfeitos
com a solução a que chegaram os
legisladores. "Claro, é melhor estudar os embriões congelados do
que não estudar nada", diz Lygia
da Veiga Pereira, geneticista colega de Zatz na USP. "Mas, se não
pudermos fazer transferência nuclear, só vamos obter linhagens de
células-tronco como as que já
existem nos EUA. Como as quatro que importamos recentemente de lá para o nosso laboratório."
Segundo Pereira, os cientistas
continuarão lutando pela futura
liberação das pesquisas com células-tronco de embriões clonados.
E, com isso, Zatz concorda. "O
que ficou acordado com o Senado", ela diz, "é que o texto passaria assim, sem a clonagem terapêutica, e que depois seria discutida uma outra lei, para versar especificamente sobre esse tema."
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