São Paulo, domingo, 8 de novembro de 1998

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CIÊNCIA
Centro de pesquisas brasileiro recebe novas máquinas para estudar partículas
De olho nos átomos

MARCELO FERRONI
enviado especial a Campinas (SP)

Até março do ano que vem serão instalados microscópios eletrônicos com alto poder de resolução no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas -o maior laboratório do gênero do Hemisfério Sul.
A nova área de pesquisa do centro, a microscopia eletrônica, deverá custar cerca de US$ 1,9 milhão e contará com três microscópios. O projeto é financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Dois deles são chamados microscópios de varredura e já são utilizados normalmente por outros centros de pesquisa no Brasil. Esses equipamentos permitem a visualização detalhada da superfície de materiais.
O outro microscópio, peça mais importante do novo centro de estudo, é chamado microscópio de transmissão de alta resolução.
Nele, um feixe de elétrons atravessa a peça analisada e imprime, em um negativo localizado abaixo da amostra, a estrutura atômica do material (veja quadro ao lado).
O Brasil já utiliza microscópios de transmissão, mas o novo aparelho usa voltagem maior (300 mil volts em vez de 200 mil volts) para que a onda que passa pelo material tenha comprimento menor.
Ondas de menor comprimento permitem maior resolução na análise final da estrutura. É possível observar, por exemplo, falhas estruturais em materiais inorgânicos e o comportamento de ligas de diferentes compostos.
A análise da estrutura atômica de é importante para casos como o de cerâmicas, formadas normalmente por diferentes compostos.
Nesse caso, é preciso estudar a distância e os ângulos de ligação entre os diferentes átomos para poder prever como o material reagirá a esforços excessivos e a variações de temperatura.
A amostra utilizada tem 3 mm de diâmetro, com um orifício central de 1 mm de diâmetro, formando uma "roda" diminuta.
A borda interna dessa roda é afinada, até que se chegue a uma espessura de 100 angstrons a 500 angstrons (um diâmetro cerca de 10 mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo). Apenas um trecho dessa borda é observado pelo microscópio.
O equipamento para a preparação da amostra também precisou ser importado.
Segundo Daniel Ugarte, coordenador da nova área de pesquisa, o microscópio deverá ser o equipamento mais potente do gênero na América do Sul.
Somente material inorgânico pode ser estudado por esse sistema, já que os elétrons destruiriam outros tipos de composto. "Materiais biológicos não resistem a um feixe de elétrons de 300 mil volts", diz Ugarte.

Tecnologia de ponta
O LNLS já possuía um sistema de análise de materiais -chamado luz síncrotron-, uma das mais avançadas ferramentas científicas para a análise da composição e da estrutura de materiais.
Por apresentar altas concentrações das radiações ultravioleta e infravermelha, de raios X e também de luz visível, a luz síncrotron permite obter em testes resultados muito mais rápidos e mais precisos do que com o uso de radiações convencionais.
Além do Brasil, esse tipo de laboratório existe apenas em 13 países: Alemanha, China, Coréia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Itália, Japão, Reino Unido, Rússia e Suécia.
Tanto a luz síncrotron quanto o microscópio de transmissão analisam a estrutura de materiais. Os aparelhos, no entanto, teriam funções complementares num estudo detalhado sobre alguma amostra de material.
Segundo Ugarte, os novos microscópios mostram a informação local do material, ou seja, detalhes de um trecho de sua estrutura atômica. O síncrotron fornece as medições gerais do material.
"No síncrotron obtém-se o tamanho médio de estruturas de uma peça grande, mas não se consegue obter o detalhamento da estrutura", afirma o pesquisador.
O centro de pesquisa é mantido com recursos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do Ministério da Ciência e Tecnologia.




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