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Ibama amarra Instituto Chico Mendes
Na prática, divisão de órgão ambiental federal não ocorreu; com presidente interino, nova instituição não tem sede
Para professora da UnB, não adianta separar sem antes dar estrutura para que órgão possa cuidar das unidades de conservação
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Criado às pressas pelo governo federal e ainda sem um presidente definitivo, o Instituto
Chico Mendes permanece
amarrado ao Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis), órgão do qual herdou a
responsabilidade pelas unidades de conservação do país.
Essa dependência foi formalizada no final do mês passado,
quando os comandos interinos
de Ibama e Chico Mendes assinaram um "acordo de cooperação" para os próximos dois
anos. Segundo o texto, uma das
"obrigações" do Ibama nesse
período será a de "apoiar as
ações de proteção às unidades
de conservação federais", justamente a principal atribuição do
instituto criado por meio de
uma medida provisória.
Nesse período, o Ibama ainda
estará obrigado a apoiar o Chico Mendes na "prevenção e
combate a incêndios florestais
nas unidades de conservação" e
na operacionalização de "sistemas e processos referentes a licenciamentos e autorizações
em unidades de conservação".
O texto traz 15 "obrigações"
do Ibama e cinco do Chico
Mendes (veja abaixo). Nos próximos dois anos, uma das tarefas do primeiro será de "disponibilizar instalações e espaços
físicos adequados ao funcionamento" do novo instituto.
"O governo deveria pensar na
estruturação dos órgãos antes
de dividi-los. Acostumou-se a
falar em fusões e segmentações
e pouco em estruturação e melhoria das condições de fiscalização", diz a engenheira Jeanine Maria Felfili, professora de
Inventário Florestal da UnB
(Universidade de Brasília).
Presidência interina
Desde agosto, quando a MP
do governo foi aprovada no
Congresso, o instituto está sob
o comando de um presidente
interino -João Paulo Capobianco, também secretário-executivo do Ministério do
Meio Ambiente.
Por enquanto, o Chico Mendes não tem sede própria e
muito menos um quadro definido de funcionários.
Segundo o Ibama, de seus
6.200 servidores na ativa,
2.300 serão aos poucos transferidos ao Chico Mendes -527 já
foram remanejados.
Os servidores do Ibama foram contrários à criação do novo instituto -entre a edição da
MP, no final de abril, e a aprovação dela no Congresso, em
agosto, os servidores permaneceram 62 dias em greve.
"Se precisa de um termo de
cooperação para fazer um instituto funcionar, por que dividiu? O que fará com que ele
funcione daqui a dois anos sem
a estrutura do Ibama?", questiona o presidente da Associação Nacional dos Servidores do
Ibama, Jonas Corrêa.
Ao Ibama, restaram as atribuições de polícia ambiental,
autorização do uso de recursos
naturais e os polêmicos licenciamentos de empreendimentos com impactos no ambiente.
Já o Instituto Chico Mendes,
além das 292 unidades federais
de conservação em todo o Brasil, lidará com programas de
pesquisa da biodiversidade.
"Era uma prioridade que as
unidades de conservação tivessem um instituto específico",
afirma Márcia Hirota, diretora
de Gestão do Conhecimento da
ONG SOS Mata Atlântica.
Sem pernas próprias
"Mas ele [Chico Mendes] tinha de ser criado com uma estrutura e com os recursos necessários para que já pudesse
andar com as próprias pernas.
Parece que não foi pensando,
planejado. Não adianta criar
um instituto e mandar todos os
vícios e burocracias para lá",
completa a diretora da ONG.
Numa linha semelhante vai
Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon (Instituto do
Homem e Meio Ambiente da
Amazônia). "Em tese, a criação
do instituto preencheria essas
lacunas [das unidades de conservação]. Mas agora dá a impressão que a criação do Chico
Mendes foi uma decisão intempestiva do governo, pouco planejada. Vemos que, na prática,
o Ibama é que vai continuar administrando essas unidades",
declara Veríssimo.
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