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CIÊNCIA
Semente é um elo frágil da
diversidade na Amazônia
MARCELO LEITE
especial para a Folha
Conservar grandes áreas da floresta amazônica, ou pelo menos
várias áreas menores, parece medida de bom senso para preservar
sua biodiversidade. Como bom
senso é coisa rara, chega em boa
hora uma pesquisa genética mostrando como a dispersão de sementes de árvores vai na contramão desse esforço.
Nas plantas, os gametas (células
reprodutivas) masculinos estão
no pólen. Encerrados em partículas leves e diminutas, os genes do
lado paterno são carregados por
insetos ou pelo vento até outra árvore, onde ocorre a fecundação
de gametas femininos (óvulos).
Com a falta de mobilidade dos
óvulos, genes da linhagem materna têm pernas curtas. Eles só se
dispersam pelo ambiente com
ajuda de sementes. Dependem de
pássaros e mamíferos que as carreguem ou enterrem, em geral
não muito longe da planta-mãe.
Não é preciso muita pesquisa
para perceber a defasagem de
mobilidade entre pólen e sementes. Já medir a diferença não é tão
simples. Há muitos estudos sobre
dispersão de pólen na Amazônia,
mas poucos sobre o fluxo de genes de linhagem materna.
Foi esse o desafio a que se dedicou Matthew Hamilton, 31, da
Universidade Georgetown, EUA.
Para medir o grau de parentesco
matrilinear entre árvores da espécie Corythophora alta, o geneticista escolheu o DNA de um corpúsculo fora do núcleo das células
vegetais, o cloroplasto (onde há a
clorofila usada na fotossíntese).
Como explica Hamilton em seu
artigo na revista "Nature" de hoje,
os genes dessas organelas passam
de planta para planta com as sementes, nunca pelo pólen. Árvores com o mesmo perfil de DNA
do cloroplasto (cpDNA), portanto, encontram-se na mesma área
de dispersão de sementes.
O que Hamilton descobriu ao
examinar 162 árvores da espécie
(conhecida como ripeiro vermelho ou castanha-jacaré) perto de
Manaus foi que o alcance das sementes é muito pequeno. Dentro
dessa área de dispersão, todas as
árvores são meias irmãs (por parte de mãe). Fora do quintal materno, a tendência é encontrar apenas primas muito distantes.
"Meus resultados sugerem que
fragmentos florestais pequenos,
comuns na Amazônia oriental,
podem não encerrar (toda) a variação genética disponível, a menos que muitas dessas pequenas
parcelas sejam preservadas", disse Hamilton à Folha.
Um mínimo de diversidade genética é fundamental para a sobrevivência de uma espécie.
Quando cai abaixo de certo limiar, começa a erosão do repertório de truques que pode usar
contra inimigos naturais ou para
adaptar-se ao ambiente em transformação.
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