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Premiado pede liberdade de pesquisa na era Bush
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Apesar da voz cansada e da maratona de entrevistas, Peter Agre
se diz "absolutamente encantado" com o Nobel. De seu laboratório na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, ele falou por
telefone de um de seus objetivos
futuros: usar o dinheiro e o prestígio do prêmio para defender a liberdade de pesquisa científica,
ameaçada pela política antiterrorismo de George W. Bush.
(RJL)
Folha - Pelo que me contaram, o
sr., ou pelo menos um de seus filhos, é fã da seleção brasileira.
Agre - É verdade. Quem é aquele
famoso goleiro de dez anos atrás?
[Pausa.] Taffarel! É isso, nós temos uma camisa dele, foi Marcelo
[Morales, pesquisador da UFRJ]
que nos deu. Naquela época meu
filho pequeno fazia parte de um
time de futebol, e o goleiro da
equipe gostava de usá-la -eles ficavam muito corajosos quando
ele usava aquela camisa.
Folha - O sr. e MacKinnon se destacam entre os premiados deste
ano por serem bem mais jovens e
terem realizado suas descobertas
há muito menos tempo. O sr. vê alguma razão especial para isso?
Agre - Certamente não cabe a
mim avaliar isso, mas a água é o
principal componente do nosso
corpo -e de plantas, insetos, microrganismos. É uma questão
fundamental saber como a água
chega aonde ela precisa ir.
Agora, por que eles nos escolheram no lugar de outros candidatos realmente merecedores do
prêmio, honestamente não sei dizer. Com 54 anos, não me considero mais tão jovem, mas ainda
espero ter alguns anos pela frente.
Estou simplesmente encantado.
Folha - Que novas aplicações clínicas, além da melhor compreensão do diabetes, o sr. acha que o
seu trabalho permitirá?
Agre - Todas as secreções -lágrimas, suor, urina- estão envolvidas aí. Erros nessas cascatas
bioquímicas podem causar doenças, mesmo em microrganismos.
Por exemplo, o organismo causador da malária [micróbios do gênero Plasmodium] tem uma
aquaporina que amigos nossos na
Alemanha estão estudando. Esperamos que esse seja um mecanismo para tratar a malária, mas ainda não sabemos. Eu acho as possibilidades fantásticas, mas a realidade é que temos um monte de
trabalho pesado à frente.
Folha - O que o sr. pretende fazer
agora com o dinheiro do prêmio e
em sua carreira como cientista?
Agre - Bem, minha mulher cuida
do dinheiro. Temos quatro filhos
para os quais precisamos providenciar educação universitária.
Temos tido a sorte de poder contribuir com vários programas
ambientais e de educação e continuaremos a apoiá-los.
Também gostaria de ajudar a
promover a liberdade de pesquisa
científica. Espero que essas coisas
não diminuam a celebração do
Nobel, porque não é por isso que
as câmeras estão aqui. Mas acho
que essa é uma oportunidade de
usar um pouco desse dinheiro e
um pouco dos nossos esforços para perseguir esse objetivo.
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