São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2001

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PALEONTOLOGIA

Pesquisa afirma que fósseis dos EUA têm 1 milhão de anos a menos que a extinção, causada por asteróide

Dinos resistiram a impacto, diz geólogo

CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Um geólogo americano aposentado ameaça implodir uma das crenças mais sólidas da paleontologia: a de que os dinossauros foram todos extintos pela queda de um asteróide 65 milhões de anos atrás. Ele afirma que alguns deles sobreviveram pelo menos 1 milhão de anos ao cataclismo.
Em um trabalho apresentado ontem durante o encontro anual da Sociedade Geológica da América, James Fassett, pesquisador emérito do USGS (Serviço Geológico dos EUA), datou uma série de fósseis descobertos numa formação rochosa do Novo México em 64,5 milhões de anos.
Para isso, usou como relógio um fenômeno curioso: as inversões do campo magnético da Terra, quando o pólo magnético Norte troca de lugar com o Sul.
Essas reversões acontecem de maneira aleatória, mas seu registro fica gravado para sempre na rocha. Medindo a polaridade de sucessivas camadas de rocha, é possível estabelecer com alguma precisão quando elas ocorreram.
Fassett aplicou o método às rochas da chamada formação Ojo Alamo, da bacia de San Juan, no Novo México. Ali ele encontrou, há 40 anos, restos de dinossauros que pareciam ser posteriores ao chamado limite Cretáceo-Terciário, quando a colisão de um corpo celeste com a Terra extinguiu pelo menos 60% das espécies -incluindo, acreditam os paleontólogos, todos os dinossauros.
Desde os anos 80 Fassett vem propondo que os dinossauros de Ojo Alamo, apelidados de "lázaros" (em alusão ao personagem bíblico ressuscitado por Jesus), sejam do Paleoceno, período imediatamente posterior ao impacto.
"Os paleontólogos, claro, não ficaram nem um pouco felizes", disse o pesquisador à Folha. "Dinossauros são o fóssil-índice mais importante para eles. E eu comecei a bagunçar tudo."
Fassett foi criticado pelos colegas, mas não largou o osso. Primeiro, realizou uma análise geoquímica da composição dos fósseis e mostrou que os lázaros deixavam uma assinatura química diferente da dos dinossauros seguramente cretáceos.
Depois, nas horas de folga, passou a levantar todas as datações já realizadas das reversões do campo magnético terrestre. A formação Ojo Alamo começa num período chamado C29r, em que os pólos magnéticos trocaram de lugar, após o impacto. "Essa zona era definitivamente paleocena", disse Fassett. A camada de rocha contendo dinossauros começa nesse período, que durou 170 mil anos, e atravessa uma zona paleomagnética normal, que tem 769 mil anos de duração.
Assim, os dinossauros teriam sobrevivido nada menos que 939 mil anos ao cataclismo.
Segundo Fassett, a fauna "lazarossauriana" -que inclui dinossauros de bico de pato, os hadrossauros, e talvez tiranossauros- teria sobrevivido por meio de ovos postos dias antes da colisão.
O evento do fim do Cretáceo levantou uma nuvem de poeira que escureceu e resfriou o planeta, matando plantas e animais.
"A escuridão teria durado alguns meses. Sabemos hoje que alguns répteis põem ovos que ficam até oito meses chocando. Então, há uma boa chance de que esses dinossauros tenham nascido quando a luz do sol voltou, mesmo com os adultos mortos", disse o cientista, que deve publicar suas conclusões em fevereiro de 2002.
Os paleontólogos continuam céticos. "Nunca acreditei nisso", disse Reinaldo José Bertini, da Unesp de Rio Claro. Segundo ele, esse tipo de datação tem uma margem de erro de até 1 milhão de anos. Além disso, diz Bertini, "existe uma descontinuidade biótica entre Cretáceo e Cenozóico".
Para o biólogo americano Ken Kinman, o estudo "parece interessante, mas Fassett vai ter de provar que os ossos não foram revirados ao longo do tempo".


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