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PALEONTOLOGIA
Pesquisa afirma que fósseis dos EUA têm 1 milhão de anos a menos que a extinção, causada por asteróide
Dinos resistiram a impacto, diz geólogo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Um geólogo americano aposentado ameaça implodir uma das
crenças mais sólidas da paleontologia: a de que os dinossauros foram todos extintos pela queda de
um asteróide 65 milhões de anos
atrás. Ele afirma que alguns deles
sobreviveram pelo menos 1 milhão de anos ao cataclismo.
Em um trabalho apresentado
ontem durante o encontro anual
da Sociedade Geológica da América, James Fassett, pesquisador
emérito do USGS (Serviço Geológico dos EUA), datou uma série
de fósseis descobertos numa formação rochosa do Novo México
em 64,5 milhões de anos.
Para isso, usou como relógio
um fenômeno curioso: as inversões do campo magnético da Terra, quando o pólo magnético Norte troca de lugar com o Sul.
Essas reversões acontecem de
maneira aleatória, mas seu registro fica gravado para sempre na
rocha. Medindo a polaridade de
sucessivas camadas de rocha, é
possível estabelecer com alguma
precisão quando elas ocorreram.
Fassett aplicou o método às rochas da chamada formação Ojo
Alamo, da bacia de San Juan, no
Novo México. Ali ele encontrou,
há 40 anos, restos de dinossauros
que pareciam ser posteriores ao
chamado limite Cretáceo-Terciário, quando a colisão de um corpo
celeste com a Terra extinguiu pelo
menos 60% das espécies -incluindo, acreditam os paleontólogos, todos os dinossauros.
Desde os anos 80 Fassett vem
propondo que os dinossauros de
Ojo Alamo, apelidados de "lázaros" (em alusão ao personagem
bíblico ressuscitado por Jesus),
sejam do Paleoceno, período imediatamente posterior ao impacto.
"Os paleontólogos, claro, não ficaram nem um pouco felizes",
disse o pesquisador à Folha. "Dinossauros são o fóssil-índice mais
importante para eles. E eu comecei a bagunçar tudo."
Fassett foi criticado pelos colegas, mas não largou o osso. Primeiro, realizou uma análise geoquímica da composição dos fósseis e mostrou que os lázaros deixavam uma assinatura química
diferente da dos dinossauros seguramente cretáceos.
Depois, nas horas de folga, passou a levantar todas as datações já
realizadas das reversões do campo magnético terrestre. A formação Ojo Alamo começa num período chamado C29r, em que os
pólos magnéticos trocaram de lugar, após o impacto. "Essa zona
era definitivamente paleocena",
disse Fassett. A camada de rocha
contendo dinossauros começa
nesse período, que durou 170 mil
anos, e atravessa uma zona paleomagnética normal, que tem 769
mil anos de duração.
Assim, os dinossauros teriam
sobrevivido nada menos que 939
mil anos ao cataclismo.
Segundo Fassett, a fauna "lazarossauriana" -que inclui dinossauros de bico de pato, os hadrossauros, e talvez tiranossauros-
teria sobrevivido por meio de
ovos postos dias antes da colisão.
O evento do fim do Cretáceo levantou uma nuvem de poeira que
escureceu e resfriou o planeta,
matando plantas e animais.
"A escuridão teria durado alguns meses. Sabemos hoje que alguns répteis põem ovos que ficam
até oito meses chocando. Então,
há uma boa chance de que esses
dinossauros tenham nascido
quando a luz do sol voltou, mesmo com os adultos mortos", disse
o cientista, que deve publicar suas
conclusões em fevereiro de 2002.
Os paleontólogos continuam
céticos. "Nunca acreditei nisso",
disse Reinaldo José Bertini, da
Unesp de Rio Claro. Segundo ele,
esse tipo de datação tem uma
margem de erro de até 1 milhão de
anos. Além disso, diz Bertini,
"existe uma descontinuidade biótica entre Cretáceo e Cenozóico".
Para o biólogo americano Ken
Kinman, o estudo "parece interessante, mas Fassett vai ter de
provar que os ossos não foram revirados ao longo do tempo".
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