São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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ASTRONOMIA

Imagem do telescópio espacial revela 10 mil galáxias como eram quando o cosmos tinha 400 milhões de anos

Hubble tem visão mais antiga do Universo

Divulgação STScI/Nasa
Imagem mostra galáxias mais antigas já avistadas no Universo


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A imagem apresentada ontem com tanto orgulho por cientistas americanos e europeus equivale a um pedacinho de céu com apenas um décimo do diâmetro aparente da Lua. Mas é um pedacinho que revela detalhes do Universo quando ele era um bebê de colo, com apenas 400 milhões de anos de idade -quase nada, perto dos 13,7 bilhões que tem hoje. É a mais antiga visão já obtida do cosmos, ao menos nas freqüências da luz visível e do infravermelho.
Nessa pequena janela para o passado cósmico, o Telescópio Espacial Hubble conseguiu enxergar cerca de 10 mil galáxias. A grande maioria não se apresenta nas formas mais comuns vistas nas redondezas da Via Láctea, como elipses ou espirais. São mais irregulares, lembrando uma época em que o Universo estava apenas aprendendo a fazer galáxias.
"A nova imagem tem uma importância muito grande", diz Laerte Sodré Júnior, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. "É possível ver com mais precisão as galáxias em sua infância. É um mergulho no espaço e no tempo", afirma.
A luz viaja no vácuo a uma velocidade finita de 300 mil quilômetros por segundo. Por essa razão, observar coisas mais distantes equivale a vê-las como eram no momento em que a luz detectada foi originalmente emitida.
Quanto mais longe o Hubble alcança, mais velha é a imagem. O telescópio espacial já ficou famoso pelas imagens do chamado Campo Profundo, que expunham o Universo quando tinha apenas 1 bilhão de anos de idade.
Após a reforma do telescópio feita, em 2002, por astronautas a bordo de um ônibus espacial, uma nova câmera foi instalada. Chamada ACS (Câmera Avançada para Pesquisas), ela foi uma das responsáveis pelo novo salto.
A nova imagem responde por um período em que o Universo tinha de 700 milhões a 400 milhões de anos -o que lhe rendeu o nome de Campo Ultraprofundo do Hubble. Não muito antes disso, as primeiras galáxias e as primeiras estrelas estavam surgindo.
Para captar essa luz tão fraca de objetos distantes, o telescópio espacial precisou ser apontado durante 1 milhão de segundos para a mesma região do céu -o que não é fácil quando se está girando em torno da Terra a uma velocidade de cerca de 28 mil quilômetros por hora. Várias órbitas foram exigidas, e as observações se deram entre 24 de setembro de 2003 e 16 de janeiro de 2004.
A imagem do Campo Ultraprofundo do Hubble ainda é apenas um resultado bruto. A partir dela, pesquisadores do mundo todo farão várias pesquisas, cada uma voltada para um interesse específico. Com suas 10 mil galáxias, ela serve por exemplo para a realização de um pequeno censo sobre o passado desses objetos.
"Esse número é limitado para vários estudos, mas dá uma boa noção", diz Sodré Júnior. Ele lamenta, como o resto da comunidade científica, a desistência da Nasa (agência espacial americana) de enviar um ônibus espacial para conduzir nova reforma do Hubble, o que encerrará prematuramente sua missão em 2008.


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