São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2005

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AMBIENTE

Com ajuda do Banco Mundial, cientistas criam plano para restaurar o nível do corpo d'água, que está secando

Israel e palestinos se aliam pelo mar Morto

Pnuma
Imagens de satélite obtidas em 1987 e 2001 mostram progressão no encolhimento do mar Morto


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece paradoxal: o mar Morto está morrendo. Mas ainda pode ser salvo. E agora as três partes interessadas na sua sobrevivência -a Autoridade Palestina e os governos de Israel e Jordânia- assinaram um acordo para iniciar estudos sobre a viabilidade de não só salvar o mar mas também melhorar a vida das populações em boa parte da região, com ajuda do Banco Mundial.
O mar interior fica na fronteira entre Israel e Jordânia. Ele tem esse nome porque é salgado demais para permitir a vida de peixes e plantas. E está desaparecendo. Seu ritmo de "morte" é relativamente rápido: seu nível fica 80 cm mais baixo a cada ano. No começo do século 20, sua área era de 950 km2; em 1997 era de 640 km2.
"O mar Morto está secando rapidamente desde o começo dos anos 60 por dois motivos: o uso da água da bacia para irrigação e a evaporação acentuada por conta da indústria de potassa [hidróxido de potássio]", disse à Folha Michael Beyth, cientista-chefe do Ministério da Infra-estrutura de Israel e um estudioso do tema.
O atual projeto foi batizado de "Canal da Paz" -embora não seja um canal (mais propriamente um aqueduto) e a paz ainda seja mercadoria rara na região.
A idéia em estudo é levar água do mar Vermelho ao mar Morto, salvando o lago salgado e provendo água para a agricultura e povoações pelo caminho.
Um acordo preliminar foi decidido faz dias pelo ministro da Água e Irrigação da Jordânia, Raed Abu So'oud; pelo ministro da Infra-estrutura de Israel, Binyamin Ben-Eliezer; e pelo ministro do Planejamento palestino, Ghassan Al Khateb.
O "canal" teria cerca de 80 km de comprimento. "Com a constante redução do nível do mar, o canal se torna cada dia mais importante, para compensar a água perdida pela evaporação e pela manutenção de tradicionais áreas turísticas da região", diz Beyth.
O mar Morto é popular entre turistas. Sua altíssima salinidade faz com que qualquer um consiga boiar sem esforço em suas águas.
Segundo Beyth, a construção do aqueduto levaria dez anos e custaria cerca de US$ 6 bilhões. Só o estudo de viabilidade deve custar uns US$ 30 milhões, pagos provavelmente pelo Banco Mundial.
Vários estudos foram feitos ao longo dos anos. Outros projetos recentes, agora descartados, previam canais ligando o mar Morto ao Mediterrâneo. A ligação mar Vermelho-mar Morto foi considerada a melhor opção. Além de servir para recompor o nível de água, o aqueduto e suas obras paralelas trariam a dessalinização e produção de 800 milhões de metros cúbicos de água potável por ano, diz o cientista israelense.
Ainda há desafios científicos pelo caminho. Resgatar o mar Morto não significa só ligar uma mangueira de água do mar para enchê-lo. É preciso saber exatamente qual tipo de água levar até ele.
Mas o projeto despertou a atenção da comunidade científica da região. E, se bem-sucedido, daria um excelente exemplo de convivência e cooperação para uma das regiões politicamente mais instáveis do planeta.


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