São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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Análise sugere que violência é maior em pequenas favelas de SP

ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

É nas pequenas favelas de São Paulo que o número de homicídios de jovens é maior. Essa foi uma das conclusões da apresentação da pesquisadora Felícia Madeira, da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), ontem na 54ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que ocorre em Goiânia.
Para chegar a essa conclusão, Madeira apresentou dados de estatísticas de homicídio sobre um mapa de São Paulo. Só foi possível realizar o estudo porque a Seade teve acesso a microdados da região metropolitana de São Paulo do Censo 2000, fornecidos pelo IBGE. Graças à especificidade das informações, foi possível, dentro de um distrito grande como o Jardim Ângela (zona sul de São Paulo), por exemplo, diferenciar microrregiões (chamadas de setores censitários) que podem representar bairros, favelas ou quarteirões.
Ao apresentar o mapa da cidade sobreposto ao de registros de homicídios, ela mostrou que a maior concentração desse tipo de crime na capital é encontrada justamente em áreas de baixo poder aquisitivo nas zonas leste e sul, onde a porcentagem de jovens é superior a 20% do total da população.
Para a pesquisadora, uma possível explicação para o fato de um maior número de homicídios ser encontrado em pequenas favelas é que, em áreas onde a invasão populacional é recente, a população está mais desorganizada e com menos condições de se opor à entrada do tráfico de drogas.
"Em localidades de baixa renda onde a situação habitacional é precária e recente, a população é menos organizada e tem menos capacidade de enfrentar o tráfico", afirmou.

Jovens e violência
Os dados da pesquisa enfocam, principalmente, a relação entre a onda jovem (fenômeno conhecido pelo aumento da população entre 15 e 24 anos na década de 90) e a violência urbana em São Paulo. "As áreas onde há mais homicídios em São Paulo são, em geral, mais pobres e onde há maior concentração de jovens", explica Madeira.
A sobreposição de mapas mostra também que o número de jovens na cidade de São Paulo é maior justamente nas áreas onde a renda média mensal do chefe de família é menor, o que significa que a população jovem de São Paulo se concentra em áreas mais pobres da cidade.
A pesquisadora defende que o fenômeno da "onda jovem" seja levado em consideração nas análises de causas da violência urbana. "Há pesquisas em vários países que mostram que há uma tensão muito grande em locais onde a proporção de jovens é superior a 20%. Eles costumam se organizar em grupos e disputar empregos, liderança e pontos de drogas, o que acaba gerando conflitos."
Para Madeira, o Brasil vive uma situação agravada pelo fato de o crescimento econômico na última década não ter acompanhado o ritmo de entrada dos jovens no mercado de trabalho. Ela cita ainda o crescimento do tráfico de drogas e do comércio de armas como dois fatores que criam uma situação propícia para a entrada do jovem no mundo do crime.
Ela afirma que a retomada de um crescimento econômico que gere emprego para jovens é fundamental para reverter esse quadro. "Os projetos sociais, sozinhos, não vão resolver", diz.



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