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Análise sugere que violência é
maior em pequenas favelas de SP
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA
É nas pequenas favelas de São Paulo que o número de homicídios de jovens é maior. Essa foi uma das conclusões da apresentação da pesquisadora Felícia Madeira, da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), ontem na 54ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade
Brasileira para o Progresso da
Ciência), que ocorre em Goiânia.
Para chegar a essa conclusão,
Madeira apresentou dados de estatísticas de homicídio sobre um
mapa de São Paulo. Só foi possível
realizar o estudo porque a Seade
teve acesso a microdados da região metropolitana de São Paulo
do Censo 2000, fornecidos pelo
IBGE. Graças à especificidade das
informações, foi possível, dentro
de um distrito grande como o Jardim Ângela (zona sul de São Paulo), por exemplo, diferenciar microrregiões (chamadas de setores
censitários) que podem representar bairros, favelas ou quarteirões.
Ao apresentar o mapa da cidade
sobreposto ao de registros de homicídios, ela mostrou que a maior
concentração desse tipo de crime
na capital é encontrada justamente em áreas de baixo poder aquisitivo nas zonas leste e sul, onde a
porcentagem de jovens é superior
a 20% do total da população.
Para a pesquisadora, uma possível explicação para o fato de um
maior número de homicídios ser
encontrado em pequenas favelas
é que, em áreas onde a invasão
populacional é recente, a população está mais desorganizada e
com menos condições de se opor
à entrada do tráfico de drogas.
"Em localidades de baixa renda
onde a situação habitacional é
precária e recente, a população é
menos organizada e tem menos
capacidade de enfrentar o tráfico", afirmou.
Jovens e violência
Os dados da pesquisa enfocam,
principalmente, a relação entre a
onda jovem (fenômeno conhecido pelo aumento da população
entre 15 e 24 anos na década de
90) e a violência urbana em São
Paulo. "As áreas onde há mais homicídios em São Paulo são, em
geral, mais pobres e onde há
maior concentração de jovens",
explica Madeira.
A sobreposição de mapas mostra também que o número de jovens na cidade de São Paulo é maior justamente nas áreas onde
a renda média mensal do chefe de
família é menor, o que significa
que a população jovem de São
Paulo se concentra em áreas mais
pobres da cidade.
A pesquisadora defende que o
fenômeno da "onda jovem" seja
levado em consideração nas análises de causas da violência urbana. "Há pesquisas em vários países que mostram que há uma tensão muito grande em locais onde
a proporção de jovens é superior a
20%. Eles costumam se organizar
em grupos e disputar empregos,
liderança e pontos de drogas, o
que acaba gerando conflitos."
Para Madeira, o Brasil vive uma
situação agravada pelo fato de o
crescimento econômico na última década não ter acompanhado
o ritmo de entrada dos jovens no
mercado de trabalho. Ela cita ainda o crescimento do tráfico de
drogas e do comércio de armas
como dois fatores que criam uma
situação propícia para a entrada
do jovem no mundo do crime.
Ela afirma que a retomada de
um crescimento econômico que
gere emprego para jovens é fundamental para reverter esse quadro. "Os projetos sociais, sozinhos, não vão resolver", diz.
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