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VLS-1
Ministro não descarta que coordenação de lançamento soubesse de problema elétrico suspeito de ter causado incêndio
Viegas mantém dúvida sobre "choques"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
O ministro José Viegas Filho
(Defesa) afirmou ontem que "não
houve relato" de que o foguete
VLS-1 estivesse "dando choque"
durante os preparativos para a
missão. No entanto, disse que não
era possível descartar que problemas de aterramento no veículo ou
na base de lançamento tivessem
causado o acidente que matou 21
pessoas no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, em
22 de agosto.
Viegas também não descartou a
hipótese de que os coordenadores
da missão tivessem conhecimento prévio de problemas com o
aterramento, os quais poderiam
ter gerado a corrente elétrica responsável pela ignição dos motores do primeiro estágio.
Ele confirmou a queima dos
transdutores (medidores) de
pressão dos motores do veículo
antes do acidente, mas negou que
o fato tivesse ligação com a tragédia. O ministro respondeu a uma
lista de sete perguntas feitas pela
Folha sobre pontos obscuros do
acidente (veja quadro à direita).
Desde os primeiros dias da investigação, Viegas afirma que a
principal suspeita sobre a ignição
de um dos propulsores do VLS-1
estava na indução de uma corrente elétrica capaz de acionar um
dos dispositivos pirotécnicos, que
fazem com que o foguete inicie a
queima do combustível sólido.
O ministro Roberto Amaral
(Ciência e Tecnologia), que também participou da audiência pública, disse que o início das investigações sobre o acidente atrasou
"uns dois ou três dias" porque a
prioridade teria sido a identificação dos corpos. Também se temia, disse, que ainda houvesse
combustível no local, o que poderia causar novo incêndio.
Antes da audiência pública,
Amaral havia negado a ocorrência de problema elétrico, o que foi
admitido logo depois pelo ministro da Defesa (queima dos transdutores). "Se tivesse ocorrido
qualquer problema desse tipo, teria sido investigado", dissera
Amaral momentos antes.
Ele negou ainda que não tenha
sido seguido o protocolo de segurança segundo o qual a instalação
dos iniciadores pirotécnicos deve
ser a última operação na preparação do foguete. Dois dos motores
do primeiro estágio já estariam
com seus dispositivos instalados
quando três equipes do CTA
(Centro Técnico Aerospacial) trabalhavam na plataforma, conforme a Folha revelou ontem.
"Devo desmentir que a norma
prevê isso e que não foi respeitada, como afirma a imprensa hoje
[ontem]", disse o ministro.
Viegas também anunciou os
nomes dos três cientistas brasileiros que serão integrados à comissão de investigação sobre a tragédia. São eles: o físico e engenheiro
Carlos Henrique de Brito Cruz,
reitor da Unicamp e indicado pela
SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência); Fernando
Cosme Rizzo de Assunção, engenheiro da PUC do Rio de Janeiro,
indicado pela Academia Brasileira de Ciências; e Paulo Murilo
Castro de Oliveira, físico da Universidade Federal Fluminense, indicado pela Sociedade Brasileira
de Física.
Viúvas das vítimas
As 20 viúvas das vítimas do acidente com o VLS querem o compromisso do governo federal de
dar continuidade ao programa espacial brasileiro.
Segundo Dóris Maciel Cezarini,
43, mulher de uma das vítimas, é
um consenso entre todas as viúvas dos técnicos que o projeto de
lançamento do foguete brasileiro
obtenha sucesso.
"Essa seria a maior recompensa
que poderíamos receber. Temos
certeza de que nossos maridos,
onde estiverem, também estarão
torcendo e felizes com isso", disse.
Ontem, um representante dos
familiares levou a Brasília uma
carta, em nome de todos os familiares, oficializando o pedido.
Um trecho da carta deixa explícito o desejo das famílias: "Nós,
viúvas e familiares das vítimas do
acidente com o VLS, estamos formando uma associação que terá
como objetivo principal não deixar que o programa espacial brasileiro pare e, acima de tudo, que
ele seja tratado com a prioridade
que merece, diante de sua grandeza e necessidade para a soberania
do Brasil".
Segundo Cezarini, o objetivo da
associação não é lutar por coisas
materiais. "Não queremos dar essa impressão às pessoas", disse.
Colaborou a Redação
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