São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2000

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Carlsson já contava com o prêmio

Reuters
Arvid Carlsson (à dir.) brinda com colegas, após saber do prêmio


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Prêmio Nobel é a coroação de quase meio século de pesquisas do farmacologista sueco Arvid Carlsson, da Universidade de Göteborg. Carlsson, que já recebeu mais de 30 prêmios científicos (o último deles, no ano passado, foi dado pela Academia dos Linces, de Roma, que teve Galileu Galilei como co-fundador), disse que já esperava receber o Nobel. "Isso havia me ocorrido", confessou.
Carlsson, 77, é o primeiro sueco a receber o Nobel desde 1982. Ele se aposentou da universidade em 1989, depois de 30 anos como professor de farmacologia, para se dedicar a sua própria companhia, a Carlsson Research.
Nascido em Uppsala (centro-sul do país), Carlsson terminou seu doutorado em medicina em 1951. No mesmo ano, começou a trabalhar como professor na Universidade Lund.
No final da década de 50, demonstrou que a dopamina funcionava como neurotransmissor no cérebro. Até então, achava-se que essa molécula fosse simplesmente uma precursora da noradrenalina, outro mensageiro químico do sistema nervoso.
Carlsson derrubou a idéia ao descobrir que a dopamina se concentrava em regiões do cérebro onde os níveis de nodadrenalina eram baixos.
O sueco também descobriu que a molécula estava relacionada ao controle dos movimentos.
Injetando em cobaias uma substância que fazia cair o nível de dopamina entre os neurônios, Arvid Carlsson notou que os animais perdiam os movimentos espontâneos -sofrendo sintomas similares aos provocados pelo mal de Parkinson.
Tratando os animais com L-dopa, um precursor da dopamina, ele conseguiu restabelecer seus movimentos. Mais tarde, a L-dopa seria adotada como droga para tratar pacientes com Parkinson.

Droga inspirou filme
A L-dopa também foi usada em portadores de encefalite letárgica (doença cerebral que matava ou deixava os pacientes em letargia permanente) nos Estados Unidos na década de 70.
As experiências ficaram famosas com o livro "Despertando", do neurologista inglês Oliver Sacks (lançado no Brasil em 1988), que inspirou a peça "Uma Espécie de Alasca", do dramaturgo inglês Harold Pinter (1982) e o filme "Tempo de Despertar", de Penny Marshall (1990), estrelado por Robin Williams.
O trabalho sobre o papel da dopamina também mostrou como as drogas contra esquizofrenia bloqueavam os receptores daquele neurotransmissor.
Carlsson afirmou que soube da contemplação em sua casa. Disse ainda não saber o que irá fazer com sua terça parte do prêmio de US$ 915 mil dólares. "Preciso falar com minha mulher primeiro; é ela quem decide essas coisas", afirmou o novo Nobel.



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