|
Texto Anterior | Índice
EVOLUÇÃO
Artigo diz que fóssil de Toumaï é de um símio
Hominídeo de 7 milhões de anos abre guerra entre paleontólogos
DA REDAÇÃO
Estava demorando. Depois que
o francês Michel Brunet agitou o
mundo da paleontologia ao
anunciar, em 11 de julho, a descoberta do mais antigo ancestral dos
hominídeos -um crânio de 7
milhões de anos desenterrado no
Chade-, um artigo científico publicado hoje afirma que o animal
não passa de um macaco grande.
A pedrada naquela que chegou
a ser considerada a maior descoberta feita na área nos últimos 80
anos veio na "Nature", a mesma
revista científica que publicou o
artigo original de Brunet.
Uma análise assinada pelo antropólogo Milford Wolpoff, da
Universidade de Michigan
(EUA), na seção de Comunicações Breves da "Nature"
(www.nature.com), afirma que o
Sahelanthropus tchadensis, mais
conhecido como Toumaï (pronuncia-se "tumaí"), não tem as
"características definidoras" dos
chamados hominídeos, como a
postura bípede.
Além disso, o formato dos dentes caninos do espécime estaria
muito mais próximo do de uma
fêmea de gorila que do de um hominídeo. Sem dó, Wolpoff intitula seu artigo de "Sahelanthropus
[homem do Sahel] ou Sahelpithecus [macaco do Sahel]?"
Na mesma página do bombardeio, a revista publica uma resposta de Brunet, dizendo que
Wolpoff e seus colaboradores ignoraram preceitos básicos de antropologia evolutiva na análise.
Por trás da polêmica se esconde
uma batalha entre dois grupos de
paleoantropólogos franceses rivais pela "propriedade" do hominídeo mais velho do mundo.
Um desses grupos é o de Brunet, da Universidade de Poitiers.
O outro é liderado por Brigitte Senut, do Collège de France, que assina a crítica a Toumaï ao lado de
Wolpoff. Em 2000 ela também
havia feito estardalhaço ao anunciar na imprensa -antes da publicação formal- a descoberta
do Orrorin tugenensis, fóssil de 6
milhões de anos que foi apelidado
de "Homem do Milênio".
"Ele foi destronado alguns meses depois", disse à Folha a antropóloga suíço-boliviana Marcia
Ponce de León, da Universidade
de Zurique, co-autora do artigo
que descreve Toumaï.
Senut, aliás, foi a primeira a sugerir, também para a mídia, que
Toumaï era um gorila fêmea. E isso na mesma semana em que a
descoberta foi anunciada.
"Uma das perguntas mais candentes entre caçadores de fósseis
e cientistas é: quem achou o hominídeo mais antigo? O artigo é a
defesa da posição do Orrorin como o primeiro." Para Ponce de
León, "é difícil descrever detalhes
de um espécime quando só se viram algumas fotos".
"Se você não pode tirar informações válidas de um artigo publicado na "Nature", por que ele foi
publicado?" -questiona Wolpoff, uma das figuras mais polêmicas da paleoantropologia.
Mesmo achando que se trata de
um grande macaco, Wolpoff reconhece a importância de Toumaï: "Seria o único fóssil do gênero na África entre 9,5 milhões de
anos e o presente".
(CA)
Texto Anterior: Fenn, 85, diz que Nobel veio como um raio Índice
|